A criança, o adolescente ou até mesmo o adulto desperta em si a curiosidade sobre o Karate, e independentemente da sua idade, seja na imaturidade da criança ou destempero da adolescência, e porque não dizer dificuldade em uma idade mais madura da vida o mesmo começa a treinar Karate.
Quando criança é o pai diz: Nossa como é caro as aulas! Que absurdo o valor do uniforme!
A criança sem entender, armazena aquilo e pensa que seu professor da as aulas só por que gosta, sem nunca imaginar que aquilo é seu ganha pão.
O adolescente por vezes ainda não trabalha, sendo o pai responsável pelo filho, arca com esse custo, e logo vem o pai e repete a mesma coisa dita para criança. E o jovem pensa: O meu professor não está dando aulas pelo dinheiro faz porque gosta.
Já adulto o mesmo vem diz: Realmente é caro treinar Karate!
Nem a criança, tampouco o jovem tem maturidade para compreender o valor real das aulas. E esses só tem com referência o adulto, que admira o especialista em medicina o doutor em direito ou grande engenheiro. Porém todos eles se esquecem que todas esses notáveis precisaram de um professor para serem o que são hoje.
É triste ver que muitas pessoas só participam de aulas gratuitas, e que só são fiéis a seu professor quando o mesmo lhe agrada, quando não o critica e aponta os erros. Esperar que o professor doe todas as energias e seu conhecimento para o seu crescimento desse aluno, sem reciprocidade do aluno, é um tipo de romantismo no Karate.
A verdade é que seu professor tem uma família, precisa pagar a mesmas contas que você ou até maiores, ele fica doente, também paga imposto de renda.
Para ser um professor de Karate, talvez você precise de 5 a 10 anos de treino duro, isso claro sem interrupções, e isso tem um custo muito maior que o valor de uma mensalidade, pode custar até o seu corpo, você chega ao extremo quase todos os treinos vai sofrer fadiga e muitas dores musculares, haverá um momento que você achará que não vai conseguir.
Ai você se forma nessa Universidade do Karate e resolve dar aulas, e continua ouvindo que o Karate é caro. E o pior não é você mais que diz isso são seus alunos.
Perceba que o que antes era caro agora parece correto, parabéns seja bem vindo agora você se tornou professor.
A verdade que para se tonar um bom professor você precisa treinar muito, e você estará fazendo o único investimento 100% seguro, você investe sempre em você, na formação de sua personalidade e competências.
Em um pais que tem 200 milhões de habitantes você talvez seja um em milhares que finalmente conseguiu entender o valor das aulas que o seu professor ofereceu antes, e que agora é seu legado ensinar.
Valorize as aulas com seu Professor!
Feliz dia dos Professores!
Oss! Osu! Ossu!
Jefferson Oliveira
Professor de Educação Física e Estudante de Karate-do estilo Shotokan
À esquerda Sensei Mikio Yahara a direita Sensei Felipe Martins
Olá Karatekas! Hoje trago a segunda entrevista especial do PROJETO RAIO-X DO KARATE NO BRASIL apresentando um pouco sobre á KWF KARATENOMICHI WORD FEDERATION.
Apesar de eu ainda encontrar algumas barreiras para desenvolver o trabalho, tais como: a distância e até dificuldade de falar como os representantes das escolas de Karate Shotokan em nosso país, busco dar continuidade de forma bem democrática e imparcial, propondo trazer aqui para vocês desde os fatos históricos, filosóficos até mesmo a parte organizacional das escolas.
O convidado desse mês é um pessoa surpreendente, além de um grande Karateka. A sua simplicidade em abraçar esse projeto me deixou como dizer... Por vezes sem palavras.
Em nossas conversas pelo telefone o que vi foi uma pessoa muito equilibrada e sincera, que procura seguir aquilo que acredita e certamente viver o Karate em sua essência.
Uma pessoa ímpar, que conseguiu conquistar a confiança de nada mais nada menos que o Mestre Mikio Yahara uma lenda mundial do Karate Shotokan.
Hoje trazemos aqui o Raio-X da KWF Karatenomichi Word Federation, representada por Sensei Felipe Martins.
RAIO-X DO CONVIDADO
Sensei Felipe Martins
Representante da KWF – Karatenomichi Word Federation no Brasil.
Instrutor, examinador e árbitro internacional.
Campeão Mundial Master KWF 2013 de Kumite e Vice Campeão de Kata no mesmo ano.
Treinou Karate-do por 2 anos em Tóquio/Japão.
Professor e empresário, ele se dedica há mais de 25 anos ao ensino do Karate.
Vamos à entrevista...
Jefferson Oliveira: Sensei de uma forma resumida conte-nos como você iniciou no Karate? E qual a sua origem falando particularmente da escola em que o Senhor deu os seus primeiros passos?
Sensei Felipe Martins: Comecei a treinar em 1976, em Natal com o Sensei Juarez Alves e Sensei Armando que era um dos seus alunos. Naquela época só existia a JKA. O karate Shotokan era basicamente um só e a JKA era basicamente a única administradora do Karate Shotokan.
Jefferson Oliveira: Atualmente existem variadas escolas de Karate Shotokan no mundo. Eu gostaria de saber como surgiu a KWF particularmente dentro Brasil?
Sensei Felipe Martins: Após a morte do Sensei Nakayama, e depois de muita briga política, vários professores da JKA abriram suas próprias escolas e começaram a difundir no mundo, e hoje é como está dividido o Karate Shotokan.
A KWF é fruto da divisão da JKA, Sensei Yahara fundou sua própria federação exatamente como outros fizeram.
Eu sempre fui aluno do Sensei Inoki e Paulo Goês que faziam parte ITKF do Sensei Nishiyama e lógico todos seus alunos ingressaram na Tradicional como não poderia ser diferente.
Devido á alguns problemas, que não vale mencionar, fui obrigado a abandonar o Sensei Inoki um dos meus mentores no Karate, mantive contato apenas com o Sensei Paulão. E como eu estava só e com um ótimo grupo de alunos, comecei a participar de eventos de várias escolas de Karate com o intuito de me aprimorar mais e achar um novo caminho e suporte, infelizmente vi que essas federações aqui no Brasil só tinham a preocupação em ganhar dinheiro e que viviam de uma marca bem conhecida, mas os procedimentos adotados não eram sérios, foi uma grande decepção para mim, quando você conhece o que acontece nas entrelinhas do Karate é complicado.
Até hoje me surpreendo com a inocência dos filiados, pois vivem um romantismo sem a menor reciprocidade e transparência, é uma pena. Mediante ao que eu presenciei, resolvi ficar só e tocar minha vida no Karate.
Em 2009 resolvi fazer uma viajem para o Japão com objetivo de apenas treinar em todos os dojos conhecidos no Japão independente de federações, e a KWF foi uma delas.
Confesso que quando entrei na KWF para treinar pude sentir o que eu não sentia a muito tempo, KARATE.
Difícil explicar, só quem treinou na década de 80 vai entender. Era Karate puro, fiquei maravilhado e aliviado, pois vi que ainda existia o treino e o espirito que aprendi a amar quando iniciei no Karate.
Minha afinidade com o Sensei Yahara foi de imediato e acredito que ele também teve uma boa impressão minha, uma vez que fomos aceitos á ingressar na KWF, eu, e meu aluno Fernando fomos os primeiros filiados KWF no Brasil.
Só para informar, para conseguir ir treinar na KWF nessa primeira vez tive que enviar uma carta com a minha história no Karate e só após ser aceito pude realmente conhecer a famosa escola do Sensei Yahara.
Após vários treinos e uma longa conversa com ele, explicando de como penso e treino o Karate, surgiu a oportunidade de representá-lo aqui no Brasil.
Consegui traze-lo no Brasil em 2013 em um grande evento e no mesmo ano fui para Dinamarca para o Congresso Mundial onde fui oficialmente anunciado como representante oficial da KWF no Brasil, muito orgulho.
Jefferson Oliveira: Sempre gosto de especular a respeito da história do Karate no Brasil, e sei que o Senhor tem muitos anos de Karate. Você consegue remontar algum fato marcante que corrobore com essa rica história do Karate Shotokan, seja em sua região ou estado. Seja algo que vivenciou e que tange com a disseminação do Karate?
Sensei Felipe Martins: Acho que a criação da ITKF no Rio de Janeiro foi uma coisa muito bonita, pois quem estava por trás de tudo eram grandes nomes do Karate do Rio de Janeiro, professores que fizeram história no Karate, pena que muitos já não estão mais entre nós.
Além disso todos nos abraçamos a ideia com seriedade, foi uma época boa, de união e rivalidades saudáveis.
Apesar de não fazer mais parte, entendo que amizades foram criadas naquele período.
Jefferson Oliveira: Sensei sabemos de uma relação muito forte que você nutriu como saudoso Sensei Inoki. O que o Senhor pode disser sobre esta relação discípulo e sensei? E o que você leva para vida particularmente de sua vivência com o Sensei?
Sensei Felipe Martins: Comecei a treinar com ele quando tinha 11 anos, peguei a preta com ele, Sensei Inoki e o Sensei Paulão eram tudo para mim, devo toda minha vida no Karate a eles, sinto muito que por falta de visão e mal entendidos não pude estar com o Sensei Inoki no final, mas me orgulho muito de ter ajudado e estado com o Sensei Paulão até o ultimo dia de sua vida.
Dono de um Karate excepcional e com uma grande capacidade de ensino, Sensei Inoki era único e completo. O Karate perdeu muito com sua morte.
Posso afirmar que sempre tive uma atenção especial, lutava com ele todos os dias e seus conselhos mudaram minha vida, apesar de eu ter me afastado sempre senti falta dele.
São tantas histórias que passei com ele que precisaria de muito tempo para contar, aliás estará tudo em meu livro.
Vale dizer que muitos treinaram com o Sensei Inoki, mas poucos podem dizer que foram realmente discípulos dele.
Jefferson Oliveira: Me chama atenção esse lado bem latente de um Karate incisivo e decisivo, e me parece serem princípios peculiares da KWF. Mesmo assim vejo o Senhor falar de uma forma muito cordial e respeitosa em relação ao lado esportivo. De fato você acha possível as duas formas coexistirem ao mesmo tempo no ambiente de aula (DOJO)?
Sensei Felipe Martins: Primeiramente e importante dizer que eu aprendi a admirar e respeitar todo o tipo de Karate, independente de estilo, e pode acreditar, eu realmente admiro e procuro sempre o lado bom.
O Karate chamado “esportivo” deu uma enorme contribuição ao Karate “tradicional”, com certeza sabendo dosar tudo é possível.
Existem grandes lutadores de Karate esportivo e precisamos avaliar melhor nossas críticas uma vez que sempre tem algo que irá nos acrescentar, cada um tem o direito de escolher seu caminho.
Eu particularmente não me interesso muito por competições, pois vejo o Karate de uma forma mais tradicional e aprecio mais o Karate como uma arte marcial e não um jogo.
Acho que um ponto a ser falado é que hoje vejo várias pessoas que preferem e se preocupam em serem campeões mais do que treinar Karate, isso para mim é preocupante, até porque em vários casos, se esquecem da ética e da amizade em nome de “um título”.
Jefferson Oliveira: Sensei, vou lhe perguntar sobre algo diria... Polêmico! Sabemos que a KWF é presidida por uma lenda do Karate mundial, o Sensei Mikio Yahara. Você consegue descrever algo de diferente nessa linha de ensino, a ponto de divergir de outras escolas? Fale para nós qual a essência da escola nessa relação particular que é o processo de ensino e aprendizagem?
Sensei Felipe Martins: Ahahah! Não considero polêmico, Karate Shotokan é Karate Shotokan, simples assim.
Vou falar de como penso no Karate e que vale para KWF, veja bem é minha humilde opinião, e o que não quer dizer que está certa ou que tenham que concordar.
Uma vez Sensei Yahara me perguntou como eu treinava na Kyokai, respondi a ele o seguinte:
“Sensei para mim meu KIZAME TSUKI tem que ser IPPON”
O que posso dizer é que cada golpe de Karate TEM QUE FUNCIONAR em uma situação de defesa pessoal, caso não funcione você estará se enganando. Simples assim, agora cada um que se avalie.
Acredito que não seja diferente de qualquer filosofia de outro estilo de Karate, apenas a maneira de encarar o treino é que tem que ser diferente e faz toda a diferença.
Jefferson Oliveira: O que o Senhor considera imprescindível para que o indivíduo que treina o Karate-do, assim possa almejar o 1º DAN ou mesmo a progressão de Dans na KWF?
Sensei Felipe Martins: Treino, conhecimento e humildade, a faixa preta tem que ser uma consequência de um aprendizado.
Hoje as pessoas se preocupam mais com graduação, para que possa ter um status, do que realmente com seu próprio Karate, em alguns casos é vergonhoso.
Tenho visto vários casos de pessoas que se intitulam “Sensei”, “Shihan”, etc... Esses títulos são dados a você por alguma entidade (Não só de karate) e não é educado nem bonito você por exemplo assinar uma carta como “Sensei fulano” isso e motivo de risada no Japão e no meio das artes marciais, as pessoas é que tomam a iniciativa de te chamarem assim ou seja, deveria ser um reconhecimento. Enfim...
Por exemplo, na KWF Brasil, se não souber Enpi, Jion, Bassai Dai, Kankudai (além dos Heians e Tekki Shodan), nem me pede para fazer exame, acho que temos que nos preocupar com o conhecimento.
A famosa faixa preta de Sensei Mikio Yahara
Jefferson Oliveira: Quem é o Sensei Mikio Yahara, seja o lado Karateka e também um pouco do lado humano no dia-a-dia? E como é sua relação com ele?
Sensei Felipe Martins: Dispensa apresentações, na minha opinião um verdadeiro samurai, minha relação com ele é de admiração e muito respeito, uma pessoa fantástica e um líder nato.
Hoje não posso reclamar, pois tenho o suporte dele 100%, o que é motivo de orgulho para mim.
Hoje guardo com carinho a faixa que ele usou durante 30 anos com muito orgulho, presente como este não poderia ser melhor.
Jefferson Oliveira: Como está organizada a KWF no Brasil? Fale das pessoas que compõe essa parte organizacional. E quais os planos para o crescimento da KWF?
Sensei Felipe Martins: Procurei montar a KWF Brasil de um modo bem honesto e com menos política possível, temos setores de marketing, médico, jurídico e técnico.
Não faço questão de um grupo grande e sim uma família unida e que simplesmente goste de Karate.
Dou total autonomia e incentivo aos meus professores filiados responsáveis dos Dojos a fazerem exames dos seus próprios alunos (até uma determinada graduação) sem dependerem de mim, isso chama-se confiança e compreensão para que todos possam evoluir e crescer.
Incentivo a todos que participem de todos os eventos de qualquer federação, acho que é muito importante sempre ouvir novas ideias e profissionais com diferentes pontos de vista.
Jefferson Oliveira: Sensei para quem está de fora e tem a vontade de conhecer a escola, participar dos cursos, e até filiar-se. Como funciona essa parte?
Sensei Felipe Martins: Só entrar em contato comigo ou algum Dojo filiado no Brasil, apenas peço um pouco de paciência, pois gosto de entender o motivo da filiação de cada um, uma vez que considero isso um compromisso.
Antes de tudo me considero uma pessoa que gosta de fazer amizades e agregadora, sempre.
O RECADO DO SENSEI
Seja um faixa preta dentro e fora do Dojo, karateka é para a vida toda.
Obrigado pela oportunidade e me desculpe por qualquer palavra mal colocada.
OSS!
Felipe Martins
AGRADECIMENTOS
Gostaria de manifestar a minha gratidão ao Sensei Felipe Martins pelo empenho em me ajudar nesta tarefa. Sobretudo quero enfatizar a sua simplicidade, humildade e paciência para ouvir a proposta desse projeto.
O Sensei Felipe Martins que mesmo sendo bem graduado no Karate Shotokan me fez perceber esse sentimento de que ele tanto fala, como se por um instante, eu fosse um colega de treino de fato. Embora eu seja apenas um estudante, afirmo que não são as escolas que fazem o professor e sim professor que faz uma escola.
Nesse sentido a KWF Karatenomichi está muito bem representada aqui no Brasil, e certamente receberá cada vez mais solicitações de filiação, tanto pelo Karate de alta qualidade como pela representação de um “Cavalheiro”.
Foi uma grande lição para mim. Muito obrigado! Sucesso Sensei.
OSS! OSU! OSSU!
Jefferson Oliveira Professor de Educação Física e estudante de Karate-do