quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SHOSHIN "MENTE DE PRINCIPIANTE". A EXPERIÊNCIA DE REALIZAR UM TREINO DE KARATE DIFERENTE DO ESTILO O QUAL PRATICO.


Olá Karatecas, hoje gostaria de compartilhar com vocês uma experiência fantástica que tive recentemente e que certamente jamais esquecerei os momentos marcantes que tive ao lado do Sensei Benício Soares e sua turma de Karate Goju-Ryu Shobukan na cidade de Santo André/SP. 

Tentarei expressar para vocês o que pude observar e vivenciar sob a visão de uma faixa branca. Como já sabemos o Karate tem suas raízes mais profundas na ilha de Okinawa, posteriormente cresceu e se expandiu mundo a fora. E uma das vertentes mais tradicionais é justamente o estilo Goju-Ryu um estilo forte e flexível, aliás vale ressaltar que eu sempre desejei conhece-lo na prática. 

Eu sempre treinei Karate do estilo Shotokan, e primeiramente gostaria de enfatizar que esse é meu estilo, e que certamente mesmo que eu me dedique por uma vida inteira aos treinamentos certamente estarei distante de compreender tudo que o meu estilo tem seja tecnicamente, conceitualmente e até espiritualmente. 

Logo o que desejo apresentar aqui é uma das perspectivas e forma de praticar o Karate. Então durante esse texto vou tentar falar um pouco mais sobre Karate Goju-Ryu e da minha experiência em si. Quero tentar contribuir para reduzir as rivalidades e disputas infundadas sobre qual estilo é melhor, ou qual técnica é superior. Em conjunto vou contar desde minha ida até o meu retorno deste treino com o Sensei Benício.

Também quero aproveitar essa matéria para tentar mostrar como pensa o Karateca referente a importância da faixa-branca e da faixa-preta. Realizei uma pesquisa na Fan Page do Blog afim de saber:

Qual a cor da faixa mais importante na caminhada de um Karateca? Shiro-Obi (Faixa-Branca) ou Kuro-Obi (Faixa-preta) ?

Os resultados da pesquisa serão apresentados no decorrer dessa matéria. 

Vamos lá... 


O ESTILO GOJU RYU 

Goju-Ryu (剛柔流, Gōjū-ryū) é um estilo de Karate desenvolvido por Chojun Miyagi originário de Okinawa no Japão. O estilo conjuga técnicas duras e firmes com técnicas suaves e circulares, daí seu nome go (剛, duro), ju (柔, suave), ryu (流 estilo), ou seja, "estilo duro e suave". 

Síntese do estilo Goju-Ryu: 
  •  Busca do combate a curta distância (sendo a estratégia de combate diferente do shiai kumite); 
  •  Movimentos circulares; 
  •  Chutes baixos e varridos; 
  •  Conciliação entre força, flexibilidade e respiração; 
  •  Contração muscular go e ju; 
  •  Respiração sonora (ibuki). 

O CONVITE 

Recentemente realizei uma entrevista com o Sensei Benício, e falamos especificamente sobre sua luta no evento Galaxy 2 o desafio Karate x Muay Thai, e vale lembrar que ele venceu esse desafio. 

Vale ressaltar que já a muito tempo venho tentando extrair informações e compreender particularidades das características dos diversos estilos de Karate, ao menos os mais comuns no Brasil.

Em relação ao estilo Goju-Ryu tenho uma admiração especial e confesso que esperava ansiosamente por esse convite de forma oficial.

Foi então, que em uma de nossas conversas surgiu ainda maior curiosidade acerca do estilo, ali comecei a imaginar treinando o estilo para conhecer as particularidades. Quando o Sensei Benício me fez o convite para um treino em seu Dojo, respondi prontamente que gostaria de ir, e foi só questão de alinhar o dia mesmo. 

Eu disse ao Sensei que gostaria de receber o tratamento de um iniciante e que queria ir como a faixa branca, afinal acredito ser o mais correto e também a forma mais respeitosa para qualquer praticante que queira aprender artes marciais. É claro com uma ressalva obviamente, a quem já domina o estilo ou modalidade, nesse caso apenas honre sua graduação ao visitar outro Dojo e outro Sensei.

   
ROTEIRO 

Naquele dia eu acordei já bastante confiante que seria uma experiência impar para meu desenvolvimento como Karateca, preparei o material de treino e equipamentos já para realizar essa matéria, claro com autorização do sensei eu queria poder extrair algumas imagens dessa experiência sempre como o objetivo de poder compartilhar com a comunidade Karateca.

A distância era de aproximadamente 50 km ida e 50 km volta indo pelo caminho mais curto, porém mais demorado. Sai de Osasco/SP as 18:15 h e chegamos ao Dojo em Santo André as 20:15 h. 

Para quem não conhece o trânsito de São Paulo posso dizer que estava até bom para uma quarta-feira, haja vista que estamos ainda em um mês de férias para muitas pessoas, no caso o mês de janeiro. 

Já no retorno foi um pouco mais rápido sai de lá as 22:10 h e chegando já em casa as 23:30 h. 

A cada passo fiz questão de gravar um pequeno trecho dessa caminhada para que ficasse ainda mais marcante a minha missão: Ter uma experiencia de treino de Karate Goju-Ryu.

Ao chegar lá preparei rapidamente o material que tinha para fazer os videos e realizei uma entrevista com o Sensei afim de saber as particularidades da linhagem Shobukan, conjuntamente procurar saber como seria o treino aquele dia.  


O TREINO 

Em relação ao treino, tenho que dizer foi uma experiência fantástica, vale ressaltar que eu vinha de um período de férias de quase um mês sem treinos de Shotokan, aliás quero enfatizar é o estilo de Karate que eu prático. 

Um dia antes havia iniciado a temporada lá no Dojo do Barueri Esporte Forte e digo a vocês quando você chega próximo dos 40 anos o seu corpo sofre bastante quando se fica sem praticar por mais de uma semana, nesse caso como disse quase um mês, tudo é mais difícil fisicamente. O corpo sofre.

Então o treino de Goju-Ryu foi o meu segundo treino da temporada e esse treino já haviámos marcado ao menos há 10 dias, e deveria ser o primeiro da temporada 2019. Queria fazê-lo antes de iniciar a temporada de Shotokan, mais sou um Karateca e dificilmente recuso uma possibilidade de treino então ao passo que é importante iniciar os meus treinos regulares eu já estava muito ansioso para retornar a rotina no Shotokan, porém já havia o compromisso em Santo André com o Goju-Ryu no dia seguinte. Eu fui treinar na terça-feira e na quarta-feira. 

Confesso não demorei um minuto para decidir fazer os 2 treinos em dias sequentes. Mais vale a ressalva de um profissional de Educação Física esse que vos escreve. Você precisa respeitar seu corpo em qualquer idade, então procure ser menos afoito e mais prudente, faça pausas antes de cada sessão de treino. 

Enfim, o sensei Benicio me falou sobre as origens do estilo Goju-Ryu e da linhagem a Shobukan, me passou como seria a aula antes e dessa forma eu já sabia que esse treino seria desafiador. 

O aquecimento, foi forte, extremamente forte, muito foco nos membros superiores e respiração, foram saltos, flexões, tudo ao extremo, abdominais e giros, tudo muito ostensivo. 

Fomos conduzidos a base mais característica do estilo Goju-Ryu o Santin Dachi que o Sensei fez questão de explicar que sua representação conduz ao próprio Kata Santin que representa: corpo, mente e espirito. 

A movimentação foi passada a partir de sequências como o nosso Kihon formal no Shotokan, porém com um passo apenas sem sair do lugar. Começamos a exercitar a base, respiração Ibuki e as sequências básicas de movimentos: por vezes Uke sempre defendendo e Zuki ou outra técnica contra-atacando, tudo isso em Santin Dachi. 

O Ippon Kumite foi o próximo passo, frente a frente o treino era bloquear Uke nível Jodan, por vezes com o punho tensho outras com ataque Kumade, as vezes defesas combinadas em nível superior e intermediário. Outras vezes com contra-ataque com Nihon nukite. Enfim recursos técnicos que usamos menos no shotokan, porém que são muito fortes e incisivos. 

Enfim tivemos uma introdução do Kata iniciante Goju Ryu, o Kihon Kata Daiti e já na parte final do treino eu estava exercitando a base santin dachi em uma forma bruta, afinal era a minha primeira experiência com Goju Ryu.

Eis um desafio extra, bem nesse momento na hora do Kata, a energia acabou e o Sensei Benício fez questão de tentar passar o Kata ao menos de forma superficial já que sem luz ficava difícil corrigir detalhes técnicos. Apenas tentei acompanhar os movimentos e analisar os recursos do Kata em si, foi simplesmente fantástico treinar isso a essa altura e as escuras. Somente com a luz dos celulares de quem assistia.

Depoimento do meu amigo do Karate Shotokan Anderson Pereira que participou junto comigo do treino de Karate Goju-Ryu:
"Foi uma satisfação imensa conhecer o estilo de Karate Goju-Ryu e principalmente o Sensei Benício Soares, que me recebeu muito bem e deu toda atenção. Tive o prazer de participar de um treino bem dinâmico mesclando: resistência, equilíbrio, respiração, concentração e coordenação, o que resulta em um bom condicionamento físico e mental. OSU!"
       
 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um tempo que muitos praticantes treinam em busca de faixas ou graduações, tenho que alertar para o fato de que somos eternos aprendizes no caminho das mãos vazias (Karate-Do). 

Poder conhecer um pouco, ainda que de forma mais superficial o estilo de Karate Goju-Ryu, me fez compreender melhor meus sentimentos em relação a faixa-branca, constantemente me vi durante o treino como um aprendiz, digo iniciante mesmo, pois estava em muitos momentos tentando replicar os movimentos que o Sensei passava. 

Muitos Karatecas já avançados poderão dizer que Karate para quem treina é tudo igual, eu digo para você lutar Karate que é o nosso Jiu Kumite talvez seja. Logo o praticante que se dedica mais obtém maior êxito. Porém o que justifica e reforça o uso da faixa branca nesse caso é justamente as nuances e variações características de um estilo bastante complexo e muito forte denominado Goju-Ryu. 

Para mim vestir a faixa branca trouxe sentimentos especiais, tive a sensação de DEJA VÚ, ou seja, de reviver uma fase de descoberta novamente, embora estejamos constantemente treinando o básico no dia-a-dia, e aliás, vale ressaltar que o avançado é o básico executado de forma mais assertiva. 

Vou deixar a minha dica para você Karateca. Seja Shotokan, Goju-Ryu, Shito-Ryu, Shorin-Ryu e muitos outros estilos. É importante escolher o estilo e seguir em frente, porém sinta ao menos uma vez essa experiência de treinar outro estilo e pense nisso como aprendizagem extracurricular.

Ainda sobre a pesquisa realizada e mencionada acima, mais que os números relativos alcançados na pesquisa que contou com mais 420 participações e muitos comentários, no caso os resultados foram: 71% Faixa-Branca e 29% Faixa-Preta, a tentativa foi saber como pensa o Karateca que interage com as redes sociais.

Ao ler os comentários o que mais notei e que teve maior menção foi a expressão que o Faixa-Preta é o Faixa-Branca que nunca desistiu.

Embora seja uma pergunta aparente sem relevância, ela fez o Karateca pensar sobre quem ele realmente é, o fez pensar como Faixa-Branca ainda que sua opção fosse Faixa-Preta, e nesse sentido eu acredito mesmo que consegui envolver as pessoas através desta reflexão.

E o que me vem a cabeça no momento de fechamento desta matéria é o termo: Shoshin, que é Mente de Principiante.

AGRADECIMENTOS

Ao Sensei Benício Soares por acreditar na minha missão e me proporcionar um experiência fantástica.

Ao meu amigo Anderson Pereira faixa-verde de Shotokan, que viveu a mesma experiência que eu, vale ressaltar que  logo que comentei com ele o meu projeto mostrou-se pronto para ajudar e colaborar.

A todos os alunos do Dojo do Sensei Benício que me receberam de uma forma muito amistosa, me proporcionando um ambiente familiar durante a minha visita.

Desejo a vocês todo o sucesso e Karate para toda a vida.     

OSS! OSU! OSSU!

Jefferson Oliveira                                                                                                                        Professor de Educação Física e estudante de Karate-Do Shotokan 
#APRENDEMOSJUNTOS


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Goju-ryu 

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