Convidado entrevista do mês: Sensei Gerson Almeida 5º Dan JKA |
Olá Karatecas, esse mês resolvi falar sobre isolamento social e seus efeitos no que tange a manutenção da estrutura de um Dojo, também desejo trazer aqui um exemplo dos esforços empregados por parte do Sensei, nessa missão sem fim de manter ativas as memórias do Karate-do.
Embora o isolamento social e seus efeitos econômicos seja comummente discutidos sob duas vertentes: a economia e a saúde.
O fato é que nesse caso realmente não podemos ver o inimigo, no caso o COVID-19.
Não estou aqui para falar sobre minha visão particular, tampouco influenciar pessoas a tomar partido, ou mesmo propor uma forma milagrosa de conciliar economia e saúde.
Logo quero lhes contar uma história de vida dedicada ao estudo e ensino do Karate Shotokan no Brasil. Ao mesmo tempo quero falar sobre o sentimento envolvido, sobre alguns aspectos do isolamento social, quero lhes apresentar a perspectiva do sensei quando reconhece as cicatrizes e marcas da sua história para justamente encontrar a força necessária para superar essa crise, seja pelo aspecto: Psicológico, físico e econômico.
Hoje trago aqui a participação do Sensei Gerson Carlos de Almeida em uma entrevista especial.
APRESENTAÇÃO DO CONVIDADO
Sensei Gerson Carlos de Almeida
É praticante de Karate-Do estilo Shotokan desde a década de 70, iniciou na academia Botokukan, com o Sensei Taketo Okuda.
Atualmente é 5º Dan da JKA Japão e faz parte da comissão técnica da JKA Brasil, é vice-presidente da JKA São Paulo.
Participa de vários cursos e campeonatos nacionais e internacionais, entre eles; os mais marcantes foram os mundiais de 2004 no Japão, 2006 na Austrália, 2011 na Tailândia, 2014 no Japão e 2017 na Irlanda, também participou de 8 campeonatos Sulamericanos.
Vamos à entrevista...
Jefferson Oliveira:
Sensei conte-nos um pouco sobre seu início no Karate.
Sensei conte-nos um pouco sobre seu início no Karate.
Sensei Gerson Almeida: Ingressei nas artes marciais por acaso, um amigo que já era praticante me convidou para conhecer o Dojo do Sensei Okuda, participei de uma aula teste e me apaixonei pelo karate, depois disso nunca mais deixei de aprender, e treinar. Posteriormente tendo a honra de ministrar aulas para meus queridos alunos.
Jefferson Oliveira: Sensei ouvi sobre sua vivencia no Karate no começo com Sensei Taketo Okuda. Conte-nos como você o conheceu? E como é a sua relação com o mestre?
Sensei Gerson Almeida: Como já escrevi acima, foi uma afortunada coincidência, eu vim a conhecê-lo por acaso como um aluno comum. Com o passar do tempo fui me dedicando muito aos treinos e admirando cada vez mais o trabalho do Sensei. Com os anos de convivência estreitamos laços de amizade através do amor ao Karate Do, ele é um grande mestre e o considero um grande amigo.
Jefferson Oliveira: Sensei você veio de uma geração fantástica do Karate no Brasil e para mim particularmente, é uma referência histórica, sendo um dos percussores do Karate JKA no Brasil, logo gostaríamos de saber quais foram suas referências no Karate em todos os tempos.
Sensei Gerson Almeida: Minhas referencias vieram do karate mais tradicional. Através do Sensei Okuda aprendi muito sobre a história do karate e também sobre grandes mestres do passado como Sensei Funakoshi considerado o pai do karate e o Sensei Nakayama que difundiu a arte para todo o mundo e foi o Mestre do Sensei Okuda.
Também conheci o trabalho de muitos outros mestres entre eles, Masahiko Tanaka, Takemori Imura, Fumio Demura, Stan Schmidt, Ueki Masaaki, Tetsuohiko Asai, Yasuyuki Sasaki, Yoshizo Machida.
Jefferson Oliveira: Acredito que o Karate precise constantemente remontar suas raízes históricas, principalmente para os iniciantes na arte. Para mim é uma lição diária buscar reconhecer esses personagens e buscar mostrar suas histórias, me emocionou ao ver algumas fotos suas na rede social, referenciando toda uma história de vida dedicada ao Karate, no caso a sua. Fale sobre seus sentimentos nessa relação de isolamento social, como você tem lhe dado com essa crise?
Acervo histórico do Sensei Gerson |
Sensei Gerson Almeida: Vivemos um momento histórico onde a humanidade precisa se reinventar, é uma hora de reavaliação, e muita dor, essa doença mudou a vida de todos, fomos pegos de surpresa e temos que nos adaptar as mudanças com o máximo de equilíbrio possível.
Para o karate esta sendo muito sacrificante, pois as academias estão fechadas pelo mundo, cursos e campeonatos cancelados e até mesmo a apresentação de nossa arte marcial nas olimpíadas do Japão foi adiada.
Soube com pesar que muitos companheiros não estão conseguindo passar por esse período sem ter dificuldade, tendo problemas para manter seus Dojos e alunos, passamos por tempos de incertezas e crise financeira.
Em minha academia tentamos manter o vinculo de amizade e companheirismo. Bolamos atividades para estimular os alunos a continuar treinando mesmo em casa e agora também estamos iniciando aulas online para manter nosso corpo saudável e nosso espírito forte, usando a ferramenta que mais nos une atualmente a internet.
Jefferson Oliveira: Algumas pessoas ilustres do Karate estiveram em seu Dojo: Sekaikan. Você pode citar algumas delas? Particularmente gostaria de saber mais sobre a visita do lendário sensei Fumio Demura a seu Dojo. O senhor pode nos contar como ocorreu essa visita?
Sensei Gerson Almeida: Foram muitos grandes mestres que tive a honra de receber em meu Dojo, mas acho que o mais famoso deles, inclusive para as pessoas que não são praticantes ou conhecedoras do karate foi o Sensei Demura, ele se tornou mundialmente conhecido pela sua participação no cinema norte americano, o filme mais conhecido acho que foi o clássico Karate Kid, ele é considerado o responsável pela popularização do karate no ocidente por muitas pessoas.
Em 1999 o Sensei Demura veio ao Brasil por convite da CBKI (Confederação Brasileira de Karate Interestilos) para uma apresentação no Campeonato Brasileiro de Karate Interestilos daquele ano, que aconteceu no Ginásio do Ibirapuera.
Durante sua visita passou por meu Dojo para treinar para sua apresentação e também nos mostrou sua técnica e contou um pouco de sua história, um grande Mestre e um homem extremamente humilde e alegre. Foi uma honra e um grande prazer conhecê-lo
Jefferson Oliveira: Como você tem feito para buscar manter a Sekaikan pronta para a continuidade após essa Pandemia?
Sensei Gerson Almeida: Eu não comecei minha carreira de trabalho no karate, meu trabalho como professor veio muitos anos depois, e por muito tempo mantive duas formas de renda em minha vida, sou aposentado do antigo banco do estado de São Paulo e por isso tenho uma segunda renda o que me ajuda muito a manter a academia viva, além-claro, do generoso apoio de meus queridos alunos que colaboram para as despesas do Dojo. Eu sempre visito o dojo e tento manter o espirito de nossa arte vivo, logo estaremos treinando de novo.
Jefferson Oliveira: Muitos professores vivem das aulas de Karate, e para alguns é sua renda única. Para você as aulas de Karate tem qual impacto financeiro em termos de renda familiar?
Sensei Gerson Almeida: Claro que sofri o impacto dessa quarentena em minha vida financeira e de minha família, mas como já escrevi, tenho uma segunda profissão que me ajuda nesse momento, como todos os brasileiros; não só os professores de karate; estou aprendendo a me adaptar a atual realidade e esperando por tempos melhores.
Sensei Gerson Almeida: Tento manter a mente ocupada com leituras e estudos de todos os tipos, mas principalmente dentro do mundo do Karate.
Momentos de descanso e lazer são importantes também, me alimento bem e mantenho meu corpo ativo com pequenos treinos e exercícios de respiração.
O RECADO DO SENSEI
Deixo minha mensagem de esperança, estimulo e força.
Estamos todos passando por uma época muito triste em nosso país e também no mundo todo, mas como tudo na vida, este momento é passageiro, tenho fé que vamos superar as dificuldades e nos reerguer.
Devemos nos apoiar em nossas famílias e amigos. Como karatecas não podemos deixar de lutar! Venceremos!
OSSU!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Independentemente de uma suposta condição financeira seja ela ruim ou previlegiada, uma coisa temos em comum a vontade de manter essa tradição da pratica do Karate mesmo que precisemos lutar com adversário invisível 24 horas por dia, e assim como exemplo é o que pressupõe a prática dos kata.
Nossa mente passa por situações de extremo stress emocional e nosso corpo sofre os efeitos, pois assim como no Karate devemos preparar-nos sempre para o próximo nível de esforço. Assim aperfeiçoamos nossa técnica, assim superamos os limites e assim venceremos essa batalha pela saúde.
Se não puder golpear estude o golpe. Não deixe de imaginar o golpe perfeito e de planejar a melhor forma de executá-lo em breve na prática.
AGRADECIMENTO
Que imenso prazer senti ao ter o senhor como convidado Sensei Gerson penso que não se aprende tão somente pela prática e fundamental a reflexão.
Quero demonstrar aqui minha admiração e todo respeito a sua história magnifica de dedicação ao Karate.
Muito obrigado por essa aula especial.
Desejo o bem fundamental: Saúde!
Jefferson Oliveira
Professor de Educação Física
Estudante de Karate-do estilo Shotokan
OSS! OSU! OSSU!Professor de Educação Física
Estudante de Karate-do estilo Shotokan