domingo, 1 de setembro de 2019

JONAS, POR TRÁS DE UM KARATECA PCD HÁ UM SER HUMANO QUE LUTA POR SEUS IDEAIS COM O SORRISO NO ROSTO.

Jonas Amaral á esquerda e Sensei Kaoru 7° Dan Shorin Ryu á direita

Olá Karatecas, o mês de setembro chegou, e pelo 2º ano consecutivo estou novamente engajado na campanha: #SETEMBROINCLUSAONOKARATE. 

É em prol da inclusão dos PCDs principalmente nas aulas de Karate, e nossa matéria especial do mês não poderia conter outro teor. Embora esse público necessite ter condições adaptadas para prática marcial, normalmente mostram-se verdadeiros guerreiros, vencedores natos na batalha da vida. 

Em 2018, eu aprendi uma lição de vida que despertou-me para olhar mais atentamente a necessidades desse público, e digo, este Blog tem por missão também dar voz as pessoas que normalmente tem pouco espaço na mídia. 

“Eu não sou a sua voz PCD”. Desejo ser durante esse mês de setembro o veículo para que você possa gritar e dizer o que precisa ser melhorado ou adaptado. 

E digo: nós só aprendemos com eles, os PCDs, na medida em que ouvimos com muita atenção seus anseios e necessidades. Os PCDs que são os verdadeiros campeões no Kumite da vida, e por mais difícil que seja sua condição os mesmos parecem se fortalecer mais e mais superando todas as adversidades. 

E nessa caminhada pude conhecer pessoas espetaculares, e uma delas é o Karateca faixa-preta de Karate estilo Goju-Ryu Jonas Amaral, um rapaz jovem e muito humilde, um lutador, que abraça a causa e vive tudo na pele com apenas uma das pernas, embora Jonas seja um dentre muitos PCDs no Brasil e no Mundo, ele jamais se abate ou deixa de manter sempre um sorriso no rosto, ou uma mão estendida para ajudar os outros. Ele luta para obter principalmente respeito da sociedade. 

Nessa matéria não quero repetir demasiadamente as histórias tristes relacionadas à perda de sua perna, eu quero mostrar suas conquistas e vitórias na vida, não necessariamente dentro dos tatames. 

Vamos conhecer o Jonas como realmente ele é.


RAIO-X DO ENTREVISTADO 

Jonal Amaral é Faixa Preta 1 º Dan de Karate estilo Goju Ryu pela CBK. 
Atleta do Parakarate da Federação Paulista de Karate (FPK) 
Como muito destaque e participações em competições internacionais, inclusive o ultimo mundial WKF na Espanha em 2018. 


Vamos a entrevista... 

Jefferson Oliveira: Quem é Jonas Amaral, seja o lado do ser humano, ou lado esportista? 

Jonas Amaral: O que eu posso dizer sobre mim... É que eu sou uma pessoa única e diferente porem ao mesmo tempo normal mesmo com a falta de uma perna, mas isso não me impede de correr atrás dos meus sonhos e objetivos tanto no esporte como na vida gerando uma vontade imensurável de auto-superação fazendo com que o impossível se se torna possível diante de qualquer situação. 


Jefferson Oliveira: Jonas, conte-nos um pouco como surgiu interesse pelas artes marciais? E quais foram às modalidades que você treinou? 

Jonas Amaral: O meu interesse sobre as artes marciais acabou surgindo a partir dos filmes de artes marciais e animes como os filmes do Jean-Claude Van Damme, Jackie Chan, Wesley Snipes e Pat Morita entre outros e animes como Dragon Ball e Cavalheiros dos Zodíacos. 
As modalidades que eu pratiquei e o tempo que eu me dediquei a elas foram: três meses de Capoeira, três anos de Jiu-Jítsu (faixa azul 3º graus), cinco anos de Taekwondo (faixa vermelha ponta preta), oito anos de Karate (Kuro Obi/Shodan), três meses de Judô (faixa branca) e um ano de Kobudo (faixa branca).


Jonas Amaral interagindo com crianças de Okinawa
Jefferson Oliveira: Jonas você me contou em Off, que já praticou variadas modalidades esportivas, incluindo esportes de aventura, sempre exigindo o máximo dentro de suas limitações físicas. Fale um pouco sobre o desafio que você teve mais dificuldade em realizar. Qual o seu entendimento sobre SUPERAÇÃO? 

Jonas Amaral: Eu sei que é meio difícil de acreditar, mas eu já pratiquei esportes como, por exemplo: Pakour, rapel e escalada e também participei da Bravus Race etapa Monster em São José dos Campos no ano de 2016. Para quem não sabe a etapa Monster da Bravus Race tem 10 km de corrida e 25 obstáculos militares e eu sempre tive o sonho de participar de uma corrida como essa e testar os meus limites, foi um momento mágico onde eu consegui explorar todo o meu potencial mesmo tendo apenas uma perna. Ao decorrer da prova eu confesso que acabou dando cãibra umas três vezes na minha perna por que ela estava muito fadigada, mas mesmo assim eu continuei e terminei a prova junto com a minha equipe. 
O meu entendimento em relação à superação é que o ser humano consegue se adaptar a todas as circunstâncias gerando às vezes até uma força sobre humana e inacreditável atingindo o ápice do efeito de superar. 


Jefferson Oliveira: E o Karate como você conheceu e há quanto tempo pratica? E o que você viu de tão especial nessa arte marcial que o fez seguir adiante? 

Jonas Amaral: Na época eu treinava Jiu-jítsu e Taekwondo no ginásio Hermínio Espósito era um projeto da secretaria de esportes do meu município chamado Esporte Cidadão onde havia varias modalidades esportivas gratuitas para os munícipes e o Sensei Oswaldo Scaccio Jr. era um dos professores que lecionava aula de karate no ginásio e através de um conversa com ele eu resolvi treinar karate. O meu primeiro contato com a aula do Sensei Oswaldo foi visual, pois eu realmente queria saber se aquela aula era diferente das outras aulas de artes marciais que eu já havia praticado e o Sensei Oswaldo passou um treinamento de KATA (Forma de uma Luta Imaginaria) e eu fiquei impressionado com aqueles conjuntos de ataques e defesas, aquilo fez os meus olhos brilharem, pois os movimentos rígidos (GO) e flexíveis (JU) formavam uma harmonia como se fosse o YIN e YANG. Então eu resolvi treinar karate, pois eu também havia me apaixonado pela historia de como o karate foi criado. Eu pratico karate há oito anos. 


Jefferson Oliveira: Jonas queremos saber como foi lidar com a perda de uma perna em uma idade tão jovem? Fale de seus sentimentos e expectativas nesta fase 

Jonas Amaral: Foi muito difícil pra eu aceitar a perda da minha perna, pois naquela época eu era muito novo e tinha apenas 15 anos de idade. Eu cheguei até entrar em depressão e não queria sair de casa para nada, pois as pessoas me olhavam de um jeito diferente com um olhar penetrante que acabava ferindo a minha alma, alguns olhares eram de dó e outro até tinham certo preconceito eu me sentia excluído da sociedade assim como na Grécia antiga. Eu precisava de uma válvula de escape algo que pudesse suprir essa minha necessidade é foi através do esporte que eu consegui superar todo esse sofrimento e preconceito. 


Jefferson Oliveira: Você já sentiu algum tipo de preconceito ou dificuldade em relação a pratica marcial, algo que gostaria de compartilhar conosco? 

Jonas Amaral á esquerda e Sensei Kaoru á direita

Jonas Amaral: No começo eu sentia muita dificuldade em relação a pratica marcial e os meus professores sempre me diziam que tudo o que as outras pessoas estavam fazendo eu também conseguiria fazer só que de uma maneira adaptada e que eles iriam me ajudar. Então eu comecei a me readaptar e a compreender as técnicas de ataques e defesas, adaptando elas ao meu estado físico. 
Confesso que eu me sentia triste, pois eu queria ter as duas pernas para executar todos aqueles chutes como uma pessoa normal e também poder correr e sentir o vento batendo em meu rosto.


Jefferson Oliveira: Você conseguiu superar a perda de sua perna? Se sim, qual(is) foram os elementos que te fortaleceram para seguir em frente? 

Jonas Amaral: Sim eu consegui superar a perda da minha perna através dos meus familiares, amigos e professores que sempre me apoiaram e me incentivaram. 


Jefferson Oliveira: Um jovem Karateca PCD do Brasil para Okinawa, como foi a sua ida ao berço do Karate? Quais foram às experiências mais marcantes, e o que você trouxe de bagagem? 

Jonas Amaral: Eu sempre tive o sonho de conhecer o berço do karate em Okinawa e fui convidado pelo Sensei Flavio Vicente de Souza para ir para Okinawa junto com ele em 2018, eu adorei o convite só que a viagem completa para Okinawa custava aproximadamente 15 mil reais e seria impossível eu conseguir esse dinheiro e o Sensei Flavio me disse para que eu não me preocupar com isso e fez uma rifa junto com a comunidade Nikkei sorteando um Iphone para que eu pudesse viajar para Okinawa e disputar o torneio de karate. 
Eu viajei para Okinawa com quatro amigos Sensei Flavio, Sensei Rose, Professor Ricardo Watanabe e Namie Kanashiro. Ao chegar a Okinawa fomos bem recebidos no aeroporto pelo Sensei Kaoru que nos levou até o nosso apartamento na Kokusai Dori (Principal Avenida de Okinawa). 
O primeiro Dojo de Karate que eu visitei e treinei em Okinawa foi o Dojo do Sensei Katsuya Miyahira da Shorin Ryu eu visitei também outros Dojo como, por exemplo: O Dojo do Sensei Kanei Hitoshi, Dojo do Sensei Takeshi Miyagi entre outros. Eu Também participei dos seminários de Karate que aconteciam no Okinawa Karate Kaikan com o Mestre Metatsu Yagi e seus filhos Akihiro Yagi, Akihito Yagi (Akihito Yagi foi um dos atores do filme Kuro Obi). 
O real motivo da minha viagem a Okinawa foi para eu defender o Brasil no torneio The 1st Okinawa Karate International Tournament 2018 na categoria Shuri-Te sendo o primeiro PCD do Brasil a competir em Okinawa/Japão. 
O torneio foi dividido por estilos Shuri-Te, Naha-Te e Tomari-Te e havia mais de 50 países participando do evento na minha chave havia 16 atletas sendo eu o único PCD e mesmo assim eu consegui obter o 7º lugar com o Kata Itosu no Passai. 
Os principais jornais de Okinawa vieram fazer matérias comigo e todos na ilha me reconheciam e me admiravam. 
Eu fiquei em Okinawa por 15 dias e conheci quase toda a ilha, pois o Sensei Flavio conhecia Okinawa como a palma de sua mão. Fomos visitar lugares incríveis como o Castelo de Shuri, os Monumentos do Sensei Itosu, Chojun Miyagi, Kanryo Higaonna entre outros lugares. 
Eu também participei do 4º Embukai Okinawa Shorin Ryu Karate-Do Kyokai e tive aulas particulares com o Sensei Mitsuo Ishibashi. 
E como Daniel San no Filme “Karate Kid 2 a Hora da Verdade Continua” Eu também arrumei uma namorada em Okinawa chamada Yuki Sunagawa rs... 
Ainda tem muitas coisas para eu contar sobre a viagem a Okinawa e a bagagem que eu trouxe de lá, mas isso fica para uma próxima entrevista, pois eu quero indicar um livro muito bom falando sobre a viagem a Okinawa do Sensei Paulo Bartolo que se chama “Okinawa uma viagem ao berço do Karate” que é realmente incrível e quando eu li foi como uma viagem no tempo eu relembrei todas as coisas que eu vivi e Okinawa e lugares que estão no livro que eu realmente visitei. 

Jefferson Oliveira: Em relação ao lado atleta, aonde você compete atualmente? Fale sobre seus objetivos, e conte-nos o que falta em sua opinião para o Karate se firmar como esporte Olímpico? E consequentemente abrir a porta para uma possível paraolimpíada. 
 Sensei Oswaldo Scaccio Jr á esquerda e Jonas a direita


Jonas Amaral: Eu já disputei vários campeonatos nacionais e internacionais eu fui vice-campeão Pan americano em 2018 no Chile, fiquei em 6º lugar no mundial da WKF em Madri no ano de 2018, fiquei em 7º lugar no Torneio em Okinawa/Japão 2018, fui campeão paulista etc. 
Eu sou um atleta que já viajou o mundo todo e fiz vários cursos com mestres conceituados dos Karate e o meu maior objetivo agora é lutar pela categoria PCD. Através de uma oportunidade me concedida pelo Presidente da Federação Paulista de Karate José Carlos eu assumi o cargo de Coordenador Técnico do Para Karate. Estamos trabalhando muito para que essa categoria cresça e se torne Paraolímpica. 
Desde já quero agradecer especialmente ao meu coordenador geral do Para Karate Oscar Garcia Braga e ao Presidente José Carlos e a todos do departamento Para Karate pela confiança e carinho que vocês têm por mim. Sobre o Karate virar Olímpico eu acho que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer de uma maneira ou de outra, pois todo mundo sabe que isso é uma jogo de ego e politicagem que sempre acaba atrapalhando o desenvolvimento do desporto. 


Jefferson Oliveira: Bem sabemos que para o esportista de alto rendimento ainda falta muito apoio financeiro e patrocínio. Como seria o seu convite para que os empresários apoiem e até invistam recursos nos Para karatecas? 

Jonas Amaral: Como todo mundo sabe os atletas de varias modalidades esportivas sofrem com a falta de patrocínio e sempre tentam correr atrás deixando até mesmo de pagar as suas próprias dividas para investir em algum campeonato sem retorno nenhum de dinheiro. Muitos amigos meus pararam de competir por falta de patrocínio, atletas bons que tiveram que parar com o karate para poder trabalhar e suprir as suas necessidades e com o Para Karate não é diferente e acaba sendo pior do que imaginamos, pois alguns deles não conseguem se locomover sozinho e precisam de um auxilio de seus familiares ou professores em alguns ginásios não tem acessibilidade ou rampas que dificulta a locomoção do atleta PCD, sem contar que eles também precisam tomar remédio nas horas certas entre outros fatores. 
Por isso eu peço para vocês não hesitar na hora de ajudar um atleta com deficiência, pois toda a ajuda é bem-vinda. 
Agradeço também a Bartolo Store que esta patrocinando dois atletas PCDS, eu e o Oscar Garcia. 


Jefferson Oliveira: Um passarinho me contou que você está escrevendo um livro. Fale um pouco sobre esse projeto. 

Jonas Amaral: Sim, eu estou escrevendo um livro chamado “Renascendo das Cinzas” é uma autobiografia que conta detalhadamente o que aconteceu comigo, sobre a noite do meu acidente causando a perca de uma perna, contado passo a passo sobre a minha superação e os preconceitos que eu sofri e tive que enfrentar, também conta como eu iniciei no Karate e sobre toda a minha trajetória nessa maravilhosa arte marcial. Talvez eu termine de escrever o livro ano que vem e faça o lançamento no segundo semestre de 2020. Também quero agradecer ao Sensei Paulo Bartolo que está sendo o meu mentor no desenvolvimento do livro. 


Deixe aqui uma mensagem para as pessoas que tem algum tipo de deficiência (PCDs) que ainda buscam encorajar-se para pratica do Karate-do 

"A mensagem que eu tenho para deixar para todos vocês é que se eu consigo lutar com apenas uma perna e correr atrás dos meus sonhos e objetivos que vocês também consigam, pois existe vários exemplos de PCD e de superação para que vocês possam se espelhar e seguir em frente fazendo com que a vontade de auto-superação ultrapasse qualquer obstáculo e quebre qualquer barreira. 
A federação Paulista de Karate está de portas abertas para ajudar vocês conte com a gente para o que precisar desde já um grande abraço. "
Jonas Amaral de Freitas 
Coordenador Técnico Para Karate.
Instagram: @jonas.amaral.oficial

AGRADECIMENTO

Á Jonas Amaral, a cada vez que nos falamos consegue transmitir somente positividade.
Parabéns por sua rica história de superação, e pela gentileza em me ajudar nesse projeto tão grandioso.
Muito Obrigado!


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa história novamente trás á tona as dificuldades e adversidades que precisam superar os PCDs, seja em sua rotina social ou na esportiva.

O Jonas é a voz de milhares de PCDs que clamam silenciosamente por mais apoio e melhores condições. Falando especificamente da questão do treinamento e da competição em si ainda falta muito a aprender com esse público.

Quando se permite a uma pessoa que foi ceifada de alguma de suas capacidades sejam elas fisíca ou mental que possam usufruir de igualdade de condições na prática esportiva, ali aplica-se plenamente a justiça.

Peço a vocês PCDs, ou não, compartilhem essa matéria, nos ajudem a dar voz a quem precisa.


Jefferson Oliveira
Professor de Educação Fisica e Estudante de Karate-do       
OSS! OSU! OSSU!     


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