Olá Karatecas esse mês resolvi falar sobre um tema da maior importância, e muito relevante, que é a inclusão social, é sabido que o dia 21 de setembro é o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência.
Os dados do IBGE apontaram a pouco tempo que apesar de representarem cerca de 24% da população brasileira e que o Brasil tem cerca de 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. A dura realidade é que essas pessoas não vivem em uma sociedade adaptada. Vale salientar que esse % diz respeito a existência de doenças, traumas, ou até mesmo incapacidades adquiridas pela idade avançada.
Os dados do IBGE apontaram a pouco tempo que apesar de representarem cerca de 24% da população brasileira e que o Brasil tem cerca de 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. A dura realidade é que essas pessoas não vivem em uma sociedade adaptada. Vale salientar que esse % diz respeito a existência de doenças, traumas, ou até mesmo incapacidades adquiridas pela idade avançada.
Decidi enfatizar esse tema ao observar as dificuldades que são relatadas por pessoas PCD que praticam o Karate, e que efetivamente querem participar das competições esportivas.
O que deu maior relevância á está matéria, é ouvir que atualmente o desrespeito ainda é muito grande com essas pessoas, seja na questão da locomoção até os diversos lugares, e até mesmo no uso indevido de vagas especiais em estacionamentos.
E esse tema é imenso, por esse motivo resolvi trazer um convidado que vive e sofre na pele esses problemas, ele que nasceu e se desenvolveu plenamente sem os problemas motores, porém por um infortuno ocorrido durante sua fase adulta, ele quase ficou tetraplégico, e com muito esforço conseguiu forças para gradualmente melhorar sua a qualidade de vida. E uma das ferramentas encontradas foi a pratica do Karate, que além da melhora na questão da auto-estima, também conseguiu evoluir na sua função neuromotora.
Ele que é muito esforçado e determinado e que luta arduamente para ver seus direitos respeitados na vida e na pratica do Karate, e busca sempre sobretudo o bem-estar coletivo.
O nosso convidado de hoje é o Karateca Oscar Garcia Braga Neto, que irá ao logo dessa entrevista nos contar a suas vivências, seus anseios e suas dificuldades. Creio que será esclarecedor durante essa leitura colocarmo-nos ainda que de forma imaginária na posição desse grande guerreiro.
Antes, vamos a uma breve explicação sobre a terminologia usada para esse grupo de pessoas PCD.
Afinal o que é PCD?
Afinal o que é PCD?
A sigla PCD, ainda é muito discutida no sentido de determinar e abranger a todas as pessoas que sofrem com as mais diversas privações. Existem diversos tipos de problemas que englobam a palavra deficiência, seja ela de ordem: física, cognitiva ou até mesmo motora.
Mais vale dizer que PCD é o termo legal e técnico a ser utilizado, também gosto de me referir de forma mais humana usando o termo: pessoas com necessidades especiais, mais certamente é particular para mim, visto que necessidade especial pode estar atrelado a falta ou ausência de outras necessidades como por exemplo: a comida, a moradia, a saúde e etc. E por isso usarei o termo técnico PCD.
RAIO X DO ENTREVISTADO
Oscar Garcia Braga Neto, atualmente com 43 anos de idade iniciou a pratica do Karate em 1990. Hoje está com cerca de 5 anos de prática efetiva do Karate ao longo de sua história.
Já foi militar por 2 anos, chegou a praticar Karate Goju Ryu e também um pouco de Jiu-Jitsu, retornando ao Karate Shotokan.
Atualmente 1º Kiu faixa marrom Karate Shotokan pela Federação Paulista de Karate
Tendo realizados diversos cursos técnicos e de aperfeiçoamento, com destaque para os cursos de Arbitragem e de Kihon pela FPK e Curso EAD de Arbitragem com Sensei André Maraschin.
Recentemente participou do Seminário Karate para a Vida com senseis: Hélio Arakaki e Paulo Bartolo.
Vamos a entrevista...
Oscar Garcia: Conheci o Karate aos 10 anos de idade, vendo o ator Jean Claude Van Damme onde me tornei fã do ator e da arte que ele trazia aos filmes.
Jefferson: Como surgiram seus problemas físicos? E como foi para você naquele momento lidar com a perda dos movimentos?
Oscar Garcia: Minha doença surgiu aos 24 anos, do nada como uma simples dormência do joelho para baixo e rapidamente foi se estendendo para o corpo todo.
De um jovem normal ver sua vida mudar aos poucos, onde uma doença tomava conta de seu corpo sem muito que fazer e todos os médicos não tinham um diagnóstico concreto, nem uma cura que parasse tudo aquilo.
Jefferson: Qual o nome da doença ou enfermidade a qual você foi diagnosticado? E quais os principais causadores no seu caso?
Oscar Garcia: Bom, o nome da doença que tive foi Pólio Neuro Radico Grave, onde ocorre a perda da bainha dos neuros, toda a proteção do meu nervo foi desintegrada. O motivo por ter tido essa doença os médicos não deram um diagnóstico. O motivo de ter essa doença, podendo ser transmitida pelo carrapato, carga neural ou então por diversos motivos.
Jefferson: Algumas pessoas impõe uma barreira mental limitando assim a suas capacidades físicas. Hoje como você lida com as dificuldades físicas e até mesmo com a ansiedade, tendo em vista ainda algumas dificuldades motoras que você enfrenta?
Oscar Garcia: Para tudo o princípio começa na mente, todas as dificuldades, medos e ansiedades a mente controla, mas a forma de lidar com isso que muda a pessoa. Às vezes você está com dor, o trabalho mental é importante, é isso que faz um deficiente olhar e seguir em frente. Mudar sua mente para seu crescimento, a sua evolução. Todos os dias as barreiras devem ser enfrentadas, a superação diária é imensa.
Eu fiquei tetraplégico, enxergava embaçado e aos 24 anos não ter uma resposta se sobreviveria tudo aquilo, se teria cura, só mexer do pescoço para cima, tudo paralisado e os médicos não ter uma solução era muito ruim.
A palavra é superação, aprendi aos poucos que a vida de uma pessoa são tijolinhos, construir um castelo aos poucos, mudar a cada dia, um processo de evolução mental, sempre sendo melhor dia a dia. É como no Karate começar do básico e evoluir aos poucos, como fazer um kata começando de um Heian Shodan e chegar a um Gankaku.
Jefferson: Conte-nos como foi esse retorno ao Karate já nessa fase mais complicada. E o que motiva você hoje a seguir em frente?
Oscar Garcia: Meu retorno ao Karate nesta nova fase de deficiente veio em forma de busca de saúde, de melhora no meu organismo, enfim, devido aos medicamentos que tomava para a melhora da minha doença cheguei a pesar 98 quilos precisava muito emagrecer então comecei a fazer musculação, mas sempre gostei de artes marciais e a academia que eu fazia tinha Jiu-jitsu, decidi fazer porque se caísse do chão não passaria, por ser mais chão no Jiu-jitsu, então depois de 4 meses vi que podia voltar a lutar, então conheci um Sensei chamado Antônio Nascimento que foi muito receptivo me deu muito apoio, com um trabalho especifico para minha deficiência, ter ponto de equilibro ao chutar e então estamos aqui.
Minha motivação hoje nessa jornada de deficiente é mostrar a pessoas com deficiência ou normais que o karate traz uma alto confiança, como trouxe a minha vida novas vertentes que já estavam dentro de mim, mas ampliou cada uma delas, como caráter, o poder da mente, coordenação motora, e como karateca é trazer essas mudanças para outras pessoas.
Jefferson: Na sua opinião o que falta para promover mais igualdade? O que pode melhorar em relação aos projetos e incentivo a pessoas com necessidades especiais?
Oscar Garcia: Bom, o que falta para promover a igualdade é a consciência, não somente levantar uma bandeira, fazendo mudanças físicas em ambientes, mas o respeito a pessoa com necessidades especiais, não somente ter um espaço para o deficiente estacionar o carro, mas, ter a consciência do indivíduo de não estacionar em vaga de deficiente pois, a nossa mobilidade é reduzida e deve ser facilitada.
Para melhorar a inclusão de pessoas com deficiência em projetos e ter a certeza que temos capacidade de realizar muitas coisas, então ter uma cota para que o PCD, é importante. Exemplo queria participar de um curso por uma determinada escola, eles não falaram com todas as letras, mas eu não me enquadrava naquele curso devido a meu estado físico. Então vejo que falta entendimento não pelos deficientes, mas para que entendam que podemos sim fazer cursos, porém com a limitação de cada um. Tenho certeza que sou capaz de muitas coisas dentro do karate, mas sei o meu limite também.
Jefferson: Qual a maior dificuldade você sente em praticar o Karate?
Oscar Garcia: Minha maior dificuldade para praticar o Karate é minha movimentação, alguns giros e pulos, direção e passos do kata.
Por falta de estabilidade do meu equilíbrio e minha mobilidade. Mesmo assim supero minhas dificuldades e nunca disse que não conseguiria. Faço dentro do meu tempo, e da forma que fique o mais próximo possível do kata que os demais fazem.
Jefferson: O que você acha que o Karate Do mais influência em seu dia-a-dia nessa busca por melhorar a sua qualidade de vida?
Oscar Garcia: Karate influencia na minha vida em vários aspectos, primeiramente em disciplina, em questão do autocontrole, auto analise e superação.
Nunca desisti e o Karate trouxe sonhos a mais, uma garra a mais em levar o Karate á diversas pessoas.
Jefferson: Em nossas conversas pude notar em você uma grande aplicação, em relação aos estudos e principalmente pela busca de qualificação dentro da arte. Afinal você está sempre presente em cursos e seminários. Você já encontrou alguma tarefa que o impedisse de participar no momento da parte prática nesses eventos. Se puder conte-nos.
Oscar Garcia: Logo de cara a mente me diz que não consigo, mas a batalha da mente com meu corpo é dizer que não conseguiria fazer certo exercício, ai vem uma força maior que faz com que eu realize o exercício superando o meu medo e minha insegurança em realizar a tarefa, e para minha surpresa supero e realizo o exercício. Então o deficiente tem que ter em mente a superação diária. Nunca desistir.
Jefferson: Deixe-nos uma mensagem sobre a sua vontade em dar continuidade à prática do Karate Do. Principalmente aqueles que estão em busca de maior motivação.
Oscar Garcia: Volto a dizer de um jovem normal cheio de sonhos e de repente me tornei uma pessoa com deficiência, o que dizer... tudo está na sua mente, como lidar com o que a vida nos proporciona está na mente, as barreiras e sonhos, estão ali, como você vai superar suas limitações, como você vai conquistar, está ali na sua mente.
O não já temos para tudo, até para nós mesmos, que muitas vezes nós nos limitamos. Mas não podemos nos entregar a nossas limitações, devemos seguir e buscar os nossos sonhos.
Eu sigo os meus como Karateca, treino, estudo, leio e faço cursos.
Faça o mesmo busque seus. Não deixe que ninguém diga que não pode fazer algo, acredite na capacidade de mudar sua vida sendo Karateca, sendo uma pessoa normal ou até mesmo com qualquer tipo de dificuldade.
Oss!
AGRADECIMENTOS
Por vezes nos sentimos mais fortes e capazes com o sentimento de que tudo podemos, sem ao menos olhar do lado, tampouco mostrar um sorriso, ou aperto de mãos sincero, um abraço.
Hoje gostaria deixar aqui todos esses gestos de amizade e de gentileza e principalmente respeito ao amigo Oscar pela sua rica história de superação.
Parabéns guerreiro que todos os seus sonhos sejam concretizados e jamais desista de seus objetivos.
Muito Obrigado por essa aula e lição de vida.
AGRADECIMENTOS
Por vezes nos sentimos mais fortes e capazes com o sentimento de que tudo podemos, sem ao menos olhar do lado, tampouco mostrar um sorriso, ou aperto de mãos sincero, um abraço.
Hoje gostaria deixar aqui todos esses gestos de amizade e de gentileza e principalmente respeito ao amigo Oscar pela sua rica história de superação.
Parabéns guerreiro que todos os seus sonhos sejam concretizados e jamais desista de seus objetivos.
Muito Obrigado por essa aula e lição de vida.
CONCLUSÃO
Quando ouvi a história inteira do Oscar pela primeira vez confesso que não entendi toda a sua luta em relação a questão da inclusão nas competições esportivas. E no decorrer de nossas conversas percebi a garra e determinação que ele tem. A luta nunca foi só a questão da possibilidade da competição, mais pelo direito de igualdade.
Não é só uma questão de falar sobre a inclusão em linguagem polida e um discurso politicamente correto. É preciso saber ouvir essas pessoas, porque é natural para muitos só olhar e pensar que a deficiência é fator de impedimento para determinadas práticas. Logo a tarefa é buscar alternativas para realiza-las sem risco a condição atual, algo que efetivamente o ajude a progredir superando os limites.
Durante esses dias pude observar as pessoas constantemente elogiam um movimento plástico, uma coordenação motora impecável, porém é muito pouco valorizado a questão do esforço.
Ao indivíduo considerado saudável é fácil elogiar um campeão com a medalha no peito, o difícil é no dia-a-dia é elogiar e incentivar a sua pratica diária em busca por melhorar a condição atual, seja ela física ou técnica.
Se nós olharmos para as pessoas valorizando o seu esforço logo teríamos um indicador mais correto da evolução pessoal e também da prática. Dar socos para um Karateca bem treinado são simples feitos, o difícil é estender as mãos com sinceridade e respeito.
Aprendi que ouvir é uma ótima oportunidade, e nos faz questionar os nossos mais profundos sentimentos em relação a prática do Karate Do. O segredo é não se acovardar e nunca aceitar que a vida lhe tire a vontade em lutar por seus ideais.
A questão não é se 1 pessoa ou se 999 pessoas querem lutar. O que preocupa é se 1000 pessoas simplesmente não fizerem nada.
OSS!
Jefferson Oliveira Professor de Educação Física e Estudante de Karate Shotokan
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/16794-pessoas-com-deficiencia-adaptando-espacos-e-atitudes.html
https://exame.abril.com.br/brasil/ibge-24-da-populacao-tem-algum-tipo-de-deficiencia/