quinta-feira, 3 de outubro de 2019

RAIO-X DA KWF KARATENOMICHI WORD FEDERATION COM SENSEI FELIPE MARTINS

À esquerda Sensei Mikio Yahara a direita Sensei Felipe Martins

Olá Karatekas! Hoje trago a segunda entrevista especial do PROJETO RAIO-X DO KARATE NO BRASIL apresentando um pouco sobre á KWF KARATENOMICHI WORD FEDERATION. 

Apesar de eu ainda encontrar algumas barreiras para desenvolver o trabalho, tais como: a distância e até dificuldade de falar como os representantes das escolas de Karate Shotokan em nosso país, busco dar continuidade de forma bem democrática e imparcial, propondo trazer aqui para vocês desde os fatos históricos, filosóficos até mesmo a parte organizacional das escolas. 

O convidado desse mês é um pessoa surpreendente, além de um grande Karateka. A sua simplicidade em abraçar esse projeto me deixou como dizer... Por vezes sem palavras. 

Em nossas conversas pelo telefone o que vi foi uma pessoa muito equilibrada e sincera, que procura seguir aquilo que acredita e certamente viver o Karate em sua essência. 

Uma pessoa ímpar, que conseguiu conquistar a confiança de nada mais nada menos que o Mestre Mikio Yahara uma lenda mundial do Karate Shotokan. 

Hoje trazemos aqui o Raio-X da KWF Karatenomichi Word Federation, representada por Sensei Felipe Martins. 


RAIO-X DO CONVIDADO 

Sensei Felipe Martins 
  • Representante da KWF – Karatenomichi Word Federation no Brasil. 
  • Instrutor, examinador e árbitro internacional. 
  • Campeão Mundial Master KWF 2013 de Kumite e Vice Campeão de Kata no mesmo ano. 
  • Treinou Karate-do por 2 anos em Tóquio/Japão. 
  • Professor e empresário, ele se dedica há mais de 25 anos ao ensino do Karate. 

Vamos à entrevista... 

Jefferson Oliveira: Sensei de uma forma resumida conte-nos como você iniciou no Karate? E qual a sua origem falando particularmente da escola em que o Senhor deu os seus primeiros passos? 

Sensei Felipe Martins: Comecei a treinar em 1976, em Natal com o Sensei Juarez Alves e Sensei Armando que era um dos seus alunos. Naquela época só existia a JKA. O karate Shotokan era basicamente um só e a JKA era basicamente a única administradora do Karate Shotokan. 


Jefferson Oliveira: Atualmente existem variadas escolas de Karate Shotokan no mundo. Eu gostaria de saber como surgiu a KWF particularmente dentro Brasil? 

Sensei Felipe Martins:  Após a morte do Sensei Nakayama, e depois de muita briga política, vários professores da JKA abriram suas próprias escolas e começaram a difundir no mundo, e hoje é como está dividido o Karate Shotokan. 
A KWF é fruto da divisão da JKA, Sensei Yahara fundou sua própria federação exatamente como outros fizeram. 
Eu sempre fui aluno do Sensei Inoki e Paulo Goês que faziam parte ITKF do Sensei Nishiyama e lógico todos seus alunos ingressaram na Tradicional como não poderia ser diferente. 
Devido á alguns problemas, que não vale mencionar, fui obrigado a abandonar o Sensei Inoki um dos meus mentores no Karate, mantive contato apenas com o Sensei Paulão. 
E como eu estava só e com um ótimo grupo de alunos, comecei a participar de eventos de várias escolas de Karate com o intuito de me aprimorar mais e achar um novo caminho e suporte, infelizmente vi que essas federações aqui no Brasil só tinham a preocupação em ganhar dinheiro e que viviam de uma marca bem conhecida, mas os procedimentos adotados não eram sérios, foi uma grande decepção para mim, quando você conhece o que acontece nas entrelinhas do Karate é complicado. 
Até hoje me surpreendo com a inocência dos filiados, pois vivem um romantismo sem a menor reciprocidade e transparência, é uma pena. Mediante ao que eu presenciei, resolvi ficar só e tocar minha vida no Karate. 
Em 2009 resolvi fazer uma viajem para o Japão com objetivo de apenas treinar em todos os dojos conhecidos no Japão independente de federações, e a KWF foi uma delas. 
Confesso que quando entrei na KWF para treinar pude sentir o que eu não sentia a muito tempo, KARATE. 
Difícil explicar, só quem treinou na década de 80 vai entender. Era Karate puro, fiquei maravilhado e aliviado, pois vi que ainda existia o treino e o espirito que aprendi a amar quando iniciei no Karate. 
Minha afinidade com o Sensei Yahara foi de imediato e acredito que ele também teve uma boa impressão minha, uma vez que fomos aceitos á ingressar na KWF, eu, e meu aluno Fernando fomos os primeiros filiados KWF no Brasil. 
Só para informar, para conseguir ir treinar na KWF nessa primeira vez tive que enviar uma carta com a minha história no Karate e só após ser aceito pude realmente conhecer a famosa escola do Sensei Yahara. 
Após vários treinos e uma longa conversa com ele, explicando de como penso e treino o Karate, surgiu a oportunidade de representá-lo aqui no Brasil. 
Consegui traze-lo no Brasil em 2013 em um grande evento e no mesmo ano fui para Dinamarca para o Congresso Mundial onde fui oficialmente anunciado como representante oficial da KWF no Brasil, muito orgulho. 

Jefferson Oliveira: Sempre gosto de especular a respeito da história do Karate no Brasil, e sei que o Senhor tem muitos anos de Karate. Você consegue remontar algum fato marcante que corrobore com essa rica história do Karate Shotokan, seja em sua região ou estado. Seja algo que vivenciou e que tange com a disseminação do Karate? 

Sensei Felipe Martins:  Acho que a criação da ITKF no Rio de Janeiro foi uma coisa muito bonita, pois quem estava por trás de tudo eram grandes nomes do Karate do Rio de Janeiro, professores que fizeram história no Karate, pena que muitos já não estão mais entre nós. 
Além disso todos nos abraçamos a ideia com seriedade, foi uma época boa, de união e rivalidades saudáveis. 
Apesar de não fazer mais parte, entendo que amizades foram criadas naquele período. 


Jefferson Oliveira: Sensei sabemos de uma relação muito forte que você nutriu como saudoso Sensei Inoki. O que o Senhor pode disser sobre esta relação discípulo e sensei? E o que você leva para vida particularmente de sua vivência com o Sensei? 

Sensei Felipe Martins:  Comecei a treinar com ele quando tinha 11 anos, peguei a preta com ele, Sensei Inoki e o Sensei Paulão eram tudo para mim, devo toda minha vida no Karate a eles, sinto muito que por falta de visão e mal entendidos não pude estar com o Sensei Inoki no final, mas me orgulho muito de ter ajudado e estado com o Sensei Paulão até o ultimo dia de sua vida. 
Dono de um Karate excepcional e com uma grande capacidade de ensino, Sensei Inoki era único e completo. O Karate perdeu muito com sua morte. 
Posso afirmar que sempre tive uma atenção especial, lutava com ele todos os dias e seus conselhos mudaram minha vida, apesar de eu ter me afastado sempre senti falta dele. 
São tantas histórias que passei com ele que precisaria de muito tempo para contar, aliás estará tudo em meu livro. 
Vale dizer que muitos treinaram com o Sensei Inoki, mas poucos podem dizer que foram realmente discípulos dele. 


Jefferson Oliveira: Me chama atenção esse lado bem latente de um Karate incisivo e decisivo, e me parece serem princípios peculiares da KWF. Mesmo assim vejo o Senhor falar de uma forma muito cordial e respeitosa em relação ao lado esportivo. De fato você acha possível as duas formas coexistirem ao mesmo tempo no ambiente de aula (DOJO)? 

Sensei Felipe Martins:  Primeiramente e importante dizer que eu aprendi a admirar e respeitar todo o tipo de Karate, independente de estilo, e pode acreditar, eu realmente admiro e procuro sempre o lado bom. 
O Karate chamado “esportivo” deu uma enorme contribuição ao Karate “tradicional”, com certeza sabendo dosar tudo é possível. 
Existem grandes lutadores de Karate esportivo e precisamos avaliar melhor nossas críticas uma vez que sempre tem algo que irá nos acrescentar, cada um tem o direito de escolher seu caminho. 
Eu particularmente não me interesso muito por competições, pois vejo o Karate de uma forma mais tradicional e aprecio mais o Karate como uma arte marcial e não um jogo. 
Acho que um ponto a ser falado é que hoje vejo várias pessoas que preferem e se preocupam em serem campeões mais do que treinar Karate, isso para mim é preocupante, até porque em vários casos, se esquecem da ética e da amizade em nome de “um título”. 


Jefferson Oliveira: Sensei, vou lhe perguntar sobre algo diria... Polêmico! Sabemos que a KWF é presidida por uma lenda do Karate mundial, o Sensei Mikio Yahara. Você consegue descrever algo de diferente nessa linha de ensino, a ponto de divergir de outras escolas? Fale para nós qual a essência da escola nessa relação particular que é o processo de ensino e aprendizagem? 

Sensei Felipe Martins:  Ahahah! Não considero polêmico, Karate Shotokan é Karate Shotokan, simples assim. 
Vou falar de como penso no Karate e que vale para KWF, veja bem é minha humilde opinião, e o que não quer dizer que está certa ou que tenham que concordar. 
Uma vez Sensei Yahara me perguntou como eu treinava na Kyokai, respondi a ele o seguinte: 
“Sensei para mim meu KIZAME TSUKI tem que ser IPPON” 
O que posso dizer é que cada golpe de Karate TEM QUE FUNCIONAR em uma situação de defesa pessoal, caso não funcione você estará se enganando. Simples assim, agora cada um que se avalie. 
Acredito que não seja diferente de qualquer filosofia de outro estilo de Karate, apenas a maneira de encarar o treino é que tem que ser diferente e faz toda a diferença. 

Jefferson Oliveira: O que o Senhor considera imprescindível para que o indivíduo que treina o Karate-do, assim possa almejar o 1º DAN ou mesmo a progressão de Dans na KWF? 

Sensei Felipe Martins: Treino, conhecimento e humildade, a faixa preta tem que ser uma consequência de um aprendizado. 
Hoje as pessoas se preocupam mais com graduação, para que possa ter um status, do que realmente com seu próprio Karate, em alguns casos é vergonhoso. 
Tenho visto vários casos de pessoas que se intitulam “Sensei”, “Shihan”, etc... Esses títulos são dados a você por alguma entidade (Não só de karate) e não é educado nem bonito você por exemplo assinar uma carta como “Sensei fulano” isso e motivo de risada no Japão e no meio das artes marciais, as pessoas é que tomam a iniciativa de te chamarem assim ou seja, deveria ser um reconhecimento. Enfim... 
Por exemplo, na KWF Brasil, se não souber Enpi, Jion, Bassai Dai, Kankudai (além dos Heians e Tekki Shodan), nem me pede para fazer exame, acho que temos que nos preocupar com o conhecimento. 


A famosa faixa preta de Sensei Mikio Yahara  

Jefferson Oliveira: Quem é o Sensei Mikio Yahara, seja o lado Karateka e também um pouco do lado humano no dia-a-dia? E como é sua relação com ele? 

Sensei Felipe Martins: Dispensa apresentações, na minha opinião um verdadeiro samurai, minha relação com ele é de admiração e muito respeito, uma pessoa fantástica e um líder nato. 
Hoje não posso reclamar, pois tenho o suporte dele 100%, o que é motivo de orgulho para mim. 
Hoje guardo com carinho a faixa que ele usou durante 30 anos com muito orgulho, presente como este não poderia ser melhor. 



Jefferson Oliveira: Como está organizada a KWF no Brasil? Fale das pessoas que compõe essa parte organizacional. E quais os planos para o crescimento da KWF? 

Sensei Felipe Martins: Procurei montar a KWF Brasil de um modo bem honesto e com menos política possível, temos setores de marketing, médico, jurídico e técnico. 
Não faço questão de um grupo grande e sim uma família unida e que simplesmente goste de Karate. 
Dou total autonomia e incentivo aos meus professores filiados responsáveis dos Dojos a fazerem exames dos seus próprios alunos (até uma determinada graduação) sem dependerem de mim, isso chama-se confiança e compreensão para que todos possam evoluir e crescer. 
Incentivo a todos que participem de todos os eventos de qualquer federação, acho que é muito importante sempre ouvir novas ideias e profissionais com diferentes pontos de vista. 


Jefferson Oliveira: Sensei para quem está de fora e tem a vontade de conhecer a escola, participar dos cursos, e até filiar-se. Como funciona essa parte? 

Sensei Felipe Martins:  Só entrar em contato comigo ou algum Dojo filiado no Brasil, apenas peço um pouco de paciência, pois gosto de entender o motivo da filiação de cada um, uma vez que considero isso um compromisso. 
Antes de tudo me considero uma pessoa que gosta de fazer amizades e agregadora, sempre. 


O RECADO DO SENSEI

Seja um faixa preta dentro e fora do Dojo, karateka é para a vida toda. 
Obrigado pela oportunidade e me desculpe por qualquer palavra mal colocada. 

OSS!
Felipe Martins


AGRADECIMENTOS 

Gostaria de manifestar a minha gratidão ao Sensei Felipe Martins pelo empenho em me ajudar nesta tarefa. Sobretudo quero enfatizar a sua simplicidade, humildade e paciência para ouvir a proposta desse projeto. 

O Sensei Felipe Martins que mesmo sendo bem graduado no Karate Shotokan me fez perceber esse sentimento de que ele tanto fala, como se por um instante, eu fosse um colega de treino de fato. Embora eu seja apenas um estudante, afirmo que não são as escolas que fazem o professor e sim professor que faz uma escola. 

Nesse sentido a KWF Karatenomichi está muito bem representada aqui no Brasil, e certamente receberá cada vez mais solicitações de filiação, tanto pelo Karate de alta qualidade como pela representação de um “Cavalheiro”. 

Foi uma grande lição para mim. Muito obrigado! Sucesso Sensei. 

OSS! OSU! OSSU! 
Jefferson Oliveira Professor de Educação Física e estudante de Karate-do

domingo, 1 de setembro de 2019

JONAS, POR TRÁS DE UM KARATECA PCD HÁ UM SER HUMANO QUE LUTA POR SEUS IDEAIS COM O SORRISO NO ROSTO.

Jonas Amaral á esquerda e Sensei Kaoru 7° Dan Shorin Ryu á direita

Olá Karatecas, o mês de setembro chegou, e pelo 2º ano consecutivo estou novamente engajado na campanha: #SETEMBROINCLUSAONOKARATE. 

É em prol da inclusão dos PCDs principalmente nas aulas de Karate, e nossa matéria especial do mês não poderia conter outro teor. Embora esse público necessite ter condições adaptadas para prática marcial, normalmente mostram-se verdadeiros guerreiros, vencedores natos na batalha da vida. 

Em 2018, eu aprendi uma lição de vida que despertou-me para olhar mais atentamente a necessidades desse público, e digo, este Blog tem por missão também dar voz as pessoas que normalmente tem pouco espaço na mídia. 

“Eu não sou a sua voz PCD”. Desejo ser durante esse mês de setembro o veículo para que você possa gritar e dizer o que precisa ser melhorado ou adaptado. 

E digo: nós só aprendemos com eles, os PCDs, na medida em que ouvimos com muita atenção seus anseios e necessidades. Os PCDs que são os verdadeiros campeões no Kumite da vida, e por mais difícil que seja sua condição os mesmos parecem se fortalecer mais e mais superando todas as adversidades. 

E nessa caminhada pude conhecer pessoas espetaculares, e uma delas é o Karateca faixa-preta de Karate estilo Goju-Ryu Jonas Amaral, um rapaz jovem e muito humilde, um lutador, que abraça a causa e vive tudo na pele com apenas uma das pernas, embora Jonas seja um dentre muitos PCDs no Brasil e no Mundo, ele jamais se abate ou deixa de manter sempre um sorriso no rosto, ou uma mão estendida para ajudar os outros. Ele luta para obter principalmente respeito da sociedade. 

Nessa matéria não quero repetir demasiadamente as histórias tristes relacionadas à perda de sua perna, eu quero mostrar suas conquistas e vitórias na vida, não necessariamente dentro dos tatames. 

Vamos conhecer o Jonas como realmente ele é.


RAIO-X DO ENTREVISTADO 

Jonal Amaral é Faixa Preta 1 º Dan de Karate estilo Goju Ryu pela CBK. 
Atleta do Parakarate da Federação Paulista de Karate (FPK) 
Como muito destaque e participações em competições internacionais, inclusive o ultimo mundial WKF na Espanha em 2018. 


Vamos a entrevista... 

Jefferson Oliveira: Quem é Jonas Amaral, seja o lado do ser humano, ou lado esportista? 

Jonas Amaral: O que eu posso dizer sobre mim... É que eu sou uma pessoa única e diferente porem ao mesmo tempo normal mesmo com a falta de uma perna, mas isso não me impede de correr atrás dos meus sonhos e objetivos tanto no esporte como na vida gerando uma vontade imensurável de auto-superação fazendo com que o impossível se se torna possível diante de qualquer situação. 


Jefferson Oliveira: Jonas, conte-nos um pouco como surgiu interesse pelas artes marciais? E quais foram às modalidades que você treinou? 

Jonas Amaral: O meu interesse sobre as artes marciais acabou surgindo a partir dos filmes de artes marciais e animes como os filmes do Jean-Claude Van Damme, Jackie Chan, Wesley Snipes e Pat Morita entre outros e animes como Dragon Ball e Cavalheiros dos Zodíacos. 
As modalidades que eu pratiquei e o tempo que eu me dediquei a elas foram: três meses de Capoeira, três anos de Jiu-Jítsu (faixa azul 3º graus), cinco anos de Taekwondo (faixa vermelha ponta preta), oito anos de Karate (Kuro Obi/Shodan), três meses de Judô (faixa branca) e um ano de Kobudo (faixa branca).


Jonas Amaral interagindo com crianças de Okinawa
Jefferson Oliveira: Jonas você me contou em Off, que já praticou variadas modalidades esportivas, incluindo esportes de aventura, sempre exigindo o máximo dentro de suas limitações físicas. Fale um pouco sobre o desafio que você teve mais dificuldade em realizar. Qual o seu entendimento sobre SUPERAÇÃO? 

Jonas Amaral: Eu sei que é meio difícil de acreditar, mas eu já pratiquei esportes como, por exemplo: Pakour, rapel e escalada e também participei da Bravus Race etapa Monster em São José dos Campos no ano de 2016. Para quem não sabe a etapa Monster da Bravus Race tem 10 km de corrida e 25 obstáculos militares e eu sempre tive o sonho de participar de uma corrida como essa e testar os meus limites, foi um momento mágico onde eu consegui explorar todo o meu potencial mesmo tendo apenas uma perna. Ao decorrer da prova eu confesso que acabou dando cãibra umas três vezes na minha perna por que ela estava muito fadigada, mas mesmo assim eu continuei e terminei a prova junto com a minha equipe. 
O meu entendimento em relação à superação é que o ser humano consegue se adaptar a todas as circunstâncias gerando às vezes até uma força sobre humana e inacreditável atingindo o ápice do efeito de superar. 


Jefferson Oliveira: E o Karate como você conheceu e há quanto tempo pratica? E o que você viu de tão especial nessa arte marcial que o fez seguir adiante? 

Jonas Amaral: Na época eu treinava Jiu-jítsu e Taekwondo no ginásio Hermínio Espósito era um projeto da secretaria de esportes do meu município chamado Esporte Cidadão onde havia varias modalidades esportivas gratuitas para os munícipes e o Sensei Oswaldo Scaccio Jr. era um dos professores que lecionava aula de karate no ginásio e através de um conversa com ele eu resolvi treinar karate. O meu primeiro contato com a aula do Sensei Oswaldo foi visual, pois eu realmente queria saber se aquela aula era diferente das outras aulas de artes marciais que eu já havia praticado e o Sensei Oswaldo passou um treinamento de KATA (Forma de uma Luta Imaginaria) e eu fiquei impressionado com aqueles conjuntos de ataques e defesas, aquilo fez os meus olhos brilharem, pois os movimentos rígidos (GO) e flexíveis (JU) formavam uma harmonia como se fosse o YIN e YANG. Então eu resolvi treinar karate, pois eu também havia me apaixonado pela historia de como o karate foi criado. Eu pratico karate há oito anos. 


Jefferson Oliveira: Jonas queremos saber como foi lidar com a perda de uma perna em uma idade tão jovem? Fale de seus sentimentos e expectativas nesta fase 

Jonas Amaral: Foi muito difícil pra eu aceitar a perda da minha perna, pois naquela época eu era muito novo e tinha apenas 15 anos de idade. Eu cheguei até entrar em depressão e não queria sair de casa para nada, pois as pessoas me olhavam de um jeito diferente com um olhar penetrante que acabava ferindo a minha alma, alguns olhares eram de dó e outro até tinham certo preconceito eu me sentia excluído da sociedade assim como na Grécia antiga. Eu precisava de uma válvula de escape algo que pudesse suprir essa minha necessidade é foi através do esporte que eu consegui superar todo esse sofrimento e preconceito. 


Jefferson Oliveira: Você já sentiu algum tipo de preconceito ou dificuldade em relação a pratica marcial, algo que gostaria de compartilhar conosco? 

Jonas Amaral á esquerda e Sensei Kaoru á direita

Jonas Amaral: No começo eu sentia muita dificuldade em relação a pratica marcial e os meus professores sempre me diziam que tudo o que as outras pessoas estavam fazendo eu também conseguiria fazer só que de uma maneira adaptada e que eles iriam me ajudar. Então eu comecei a me readaptar e a compreender as técnicas de ataques e defesas, adaptando elas ao meu estado físico. 
Confesso que eu me sentia triste, pois eu queria ter as duas pernas para executar todos aqueles chutes como uma pessoa normal e também poder correr e sentir o vento batendo em meu rosto.


Jefferson Oliveira: Você conseguiu superar a perda de sua perna? Se sim, qual(is) foram os elementos que te fortaleceram para seguir em frente? 

Jonas Amaral: Sim eu consegui superar a perda da minha perna através dos meus familiares, amigos e professores que sempre me apoiaram e me incentivaram. 


Jefferson Oliveira: Um jovem Karateca PCD do Brasil para Okinawa, como foi a sua ida ao berço do Karate? Quais foram às experiências mais marcantes, e o que você trouxe de bagagem? 

Jonas Amaral: Eu sempre tive o sonho de conhecer o berço do karate em Okinawa e fui convidado pelo Sensei Flavio Vicente de Souza para ir para Okinawa junto com ele em 2018, eu adorei o convite só que a viagem completa para Okinawa custava aproximadamente 15 mil reais e seria impossível eu conseguir esse dinheiro e o Sensei Flavio me disse para que eu não me preocupar com isso e fez uma rifa junto com a comunidade Nikkei sorteando um Iphone para que eu pudesse viajar para Okinawa e disputar o torneio de karate. 
Eu viajei para Okinawa com quatro amigos Sensei Flavio, Sensei Rose, Professor Ricardo Watanabe e Namie Kanashiro. Ao chegar a Okinawa fomos bem recebidos no aeroporto pelo Sensei Kaoru que nos levou até o nosso apartamento na Kokusai Dori (Principal Avenida de Okinawa). 
O primeiro Dojo de Karate que eu visitei e treinei em Okinawa foi o Dojo do Sensei Katsuya Miyahira da Shorin Ryu eu visitei também outros Dojo como, por exemplo: O Dojo do Sensei Kanei Hitoshi, Dojo do Sensei Takeshi Miyagi entre outros. Eu Também participei dos seminários de Karate que aconteciam no Okinawa Karate Kaikan com o Mestre Metatsu Yagi e seus filhos Akihiro Yagi, Akihito Yagi (Akihito Yagi foi um dos atores do filme Kuro Obi). 
O real motivo da minha viagem a Okinawa foi para eu defender o Brasil no torneio The 1st Okinawa Karate International Tournament 2018 na categoria Shuri-Te sendo o primeiro PCD do Brasil a competir em Okinawa/Japão. 
O torneio foi dividido por estilos Shuri-Te, Naha-Te e Tomari-Te e havia mais de 50 países participando do evento na minha chave havia 16 atletas sendo eu o único PCD e mesmo assim eu consegui obter o 7º lugar com o Kata Itosu no Passai. 
Os principais jornais de Okinawa vieram fazer matérias comigo e todos na ilha me reconheciam e me admiravam. 
Eu fiquei em Okinawa por 15 dias e conheci quase toda a ilha, pois o Sensei Flavio conhecia Okinawa como a palma de sua mão. Fomos visitar lugares incríveis como o Castelo de Shuri, os Monumentos do Sensei Itosu, Chojun Miyagi, Kanryo Higaonna entre outros lugares. 
Eu também participei do 4º Embukai Okinawa Shorin Ryu Karate-Do Kyokai e tive aulas particulares com o Sensei Mitsuo Ishibashi. 
E como Daniel San no Filme “Karate Kid 2 a Hora da Verdade Continua” Eu também arrumei uma namorada em Okinawa chamada Yuki Sunagawa rs... 
Ainda tem muitas coisas para eu contar sobre a viagem a Okinawa e a bagagem que eu trouxe de lá, mas isso fica para uma próxima entrevista, pois eu quero indicar um livro muito bom falando sobre a viagem a Okinawa do Sensei Paulo Bartolo que se chama “Okinawa uma viagem ao berço do Karate” que é realmente incrível e quando eu li foi como uma viagem no tempo eu relembrei todas as coisas que eu vivi e Okinawa e lugares que estão no livro que eu realmente visitei. 

Jefferson Oliveira: Em relação ao lado atleta, aonde você compete atualmente? Fale sobre seus objetivos, e conte-nos o que falta em sua opinião para o Karate se firmar como esporte Olímpico? E consequentemente abrir a porta para uma possível paraolimpíada. 
 Sensei Oswaldo Scaccio Jr á esquerda e Jonas a direita


Jonas Amaral: Eu já disputei vários campeonatos nacionais e internacionais eu fui vice-campeão Pan americano em 2018 no Chile, fiquei em 6º lugar no mundial da WKF em Madri no ano de 2018, fiquei em 7º lugar no Torneio em Okinawa/Japão 2018, fui campeão paulista etc. 
Eu sou um atleta que já viajou o mundo todo e fiz vários cursos com mestres conceituados dos Karate e o meu maior objetivo agora é lutar pela categoria PCD. Através de uma oportunidade me concedida pelo Presidente da Federação Paulista de Karate José Carlos eu assumi o cargo de Coordenador Técnico do Para Karate. Estamos trabalhando muito para que essa categoria cresça e se torne Paraolímpica. 
Desde já quero agradecer especialmente ao meu coordenador geral do Para Karate Oscar Garcia Braga e ao Presidente José Carlos e a todos do departamento Para Karate pela confiança e carinho que vocês têm por mim. Sobre o Karate virar Olímpico eu acho que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer de uma maneira ou de outra, pois todo mundo sabe que isso é uma jogo de ego e politicagem que sempre acaba atrapalhando o desenvolvimento do desporto. 


Jefferson Oliveira: Bem sabemos que para o esportista de alto rendimento ainda falta muito apoio financeiro e patrocínio. Como seria o seu convite para que os empresários apoiem e até invistam recursos nos Para karatecas? 

Jonas Amaral: Como todo mundo sabe os atletas de varias modalidades esportivas sofrem com a falta de patrocínio e sempre tentam correr atrás deixando até mesmo de pagar as suas próprias dividas para investir em algum campeonato sem retorno nenhum de dinheiro. Muitos amigos meus pararam de competir por falta de patrocínio, atletas bons que tiveram que parar com o karate para poder trabalhar e suprir as suas necessidades e com o Para Karate não é diferente e acaba sendo pior do que imaginamos, pois alguns deles não conseguem se locomover sozinho e precisam de um auxilio de seus familiares ou professores em alguns ginásios não tem acessibilidade ou rampas que dificulta a locomoção do atleta PCD, sem contar que eles também precisam tomar remédio nas horas certas entre outros fatores. 
Por isso eu peço para vocês não hesitar na hora de ajudar um atleta com deficiência, pois toda a ajuda é bem-vinda. 
Agradeço também a Bartolo Store que esta patrocinando dois atletas PCDS, eu e o Oscar Garcia. 


Jefferson Oliveira: Um passarinho me contou que você está escrevendo um livro. Fale um pouco sobre esse projeto. 

Jonas Amaral: Sim, eu estou escrevendo um livro chamado “Renascendo das Cinzas” é uma autobiografia que conta detalhadamente o que aconteceu comigo, sobre a noite do meu acidente causando a perca de uma perna, contado passo a passo sobre a minha superação e os preconceitos que eu sofri e tive que enfrentar, também conta como eu iniciei no Karate e sobre toda a minha trajetória nessa maravilhosa arte marcial. Talvez eu termine de escrever o livro ano que vem e faça o lançamento no segundo semestre de 2020. Também quero agradecer ao Sensei Paulo Bartolo que está sendo o meu mentor no desenvolvimento do livro. 


Deixe aqui uma mensagem para as pessoas que tem algum tipo de deficiência (PCDs) que ainda buscam encorajar-se para pratica do Karate-do 

"A mensagem que eu tenho para deixar para todos vocês é que se eu consigo lutar com apenas uma perna e correr atrás dos meus sonhos e objetivos que vocês também consigam, pois existe vários exemplos de PCD e de superação para que vocês possam se espelhar e seguir em frente fazendo com que a vontade de auto-superação ultrapasse qualquer obstáculo e quebre qualquer barreira. 
A federação Paulista de Karate está de portas abertas para ajudar vocês conte com a gente para o que precisar desde já um grande abraço. "
Jonas Amaral de Freitas 
Coordenador Técnico Para Karate.
Instagram: @jonas.amaral.oficial

AGRADECIMENTO

Á Jonas Amaral, a cada vez que nos falamos consegue transmitir somente positividade.
Parabéns por sua rica história de superação, e pela gentileza em me ajudar nesse projeto tão grandioso.
Muito Obrigado!


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa história novamente trás á tona as dificuldades e adversidades que precisam superar os PCDs, seja em sua rotina social ou na esportiva.

O Jonas é a voz de milhares de PCDs que clamam silenciosamente por mais apoio e melhores condições. Falando especificamente da questão do treinamento e da competição em si ainda falta muito a aprender com esse público.

Quando se permite a uma pessoa que foi ceifada de alguma de suas capacidades sejam elas fisíca ou mental que possam usufruir de igualdade de condições na prática esportiva, ali aplica-se plenamente a justiça.

Peço a vocês PCDs, ou não, compartilhem essa matéria, nos ajudem a dar voz a quem precisa.


Jefferson Oliveira
Professor de Educação Fisica e Estudante de Karate-do       
OSS! OSU! OSSU!     


quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A IMPORTÂNCIA DE OLHAR PARA DENTRO DE SI ANTES DE CRITICAR TERCEIROS.



"NÃO VOU MAIS AO KARATE"
Um jovem chega para o sensei e diz:
- Sensei, não irei mais para o karate!
O sensei então respondeu:
- Mas por quê?
O jovem respondeu:
- Ah! Eu vejo pessoas que falam mal de outras pessoas; o irmão que não treina bem; as pessoas que durante os treinos ficam olhando o celular, entre tantas e tantas outras coisas erradas que vejo fazerem no dojo.
Disse-lhe o sensei:
- Ok! Mas antes quero que você me faça um favor: pegue um copo cheio de água e dê três voltas pelo Dojo sem derramar uma gota de água no chão. Depois disso, você pode sair do Dojo.
E o jovem pensou: muito fácil!
E deu as três voltas conforme o sensei lhe pedira. Quando terminou disse:
- Pronto Sensei Oss.
E o sensei respondeu:
- Quando você estava dando as voltas, você viu alguma pessoa falar mal da outra?
O jovem:
- Não
Você viu as pessoas reclamarem uns dos outros?
O jovem:
- Não
Você viu alguém olhando celular?
O jovem:
- Não
Sabe por quê?
- Você estava focado no copo para não derrubar a água.
O mesmo é na nossa vida. Quando o nosso foco for nosso KARATE, não teremos tempo de ver os erros das pessoas.
QUEM SAI DO DOJO POR CAUSA DE PESSOAS, NUNCA ENTROU POR CAUSA DO KARATE.

Adaptado de uma parábola religiosa, de autoria desconhecida.

(Créditos Atila Ramos da Silva)


OSS! OSU! OSSU!
Jefferson Oliveira
Professor de Educação Fisíca e Estudante de Karate-do

sexta-feira, 5 de julho de 2019

ASSIM COMO RENOVAM-SE AS FLORES DE UMA CEREJEIRA DEVE SER O ESPÍRITO DO KARATECA


Eis que um dia você houve de algum conhecido: ” Venha treinar Karatê aqui conosco”. 

Para alguns vem à cabeça, eu não preciso treinar isso, pois é cansativo, cheio de regras de etiqueta, e para outros parece o máximo, e dentro de si vem aquele pensamento que quando for um faixa-preta ninguém irá mexer comigo ou me desafiar. 

Existirão aqueles que procurarão ver o faixa-preta como um herói, ou alguém acima do bem e do mal. O que poucos saberão será sobre essa caminhada marcial, sobre acordar com dores, de pensar em desistir, de desistir, de recomeçar, tentar novamente, persistir e realizar. 

Um dia você está cheio de energia, e diz: “Hoje nada me impedirá de treinar Karatê. E em outro dia, você diz: Para que treinar? 

E por mais estranho que pareça você levará anos para encontrar respostas verdadeiras, e com o tempo de treino, seja de interrupções ou de retornos, o certo é que Karate não é uma modalidade esportiva do que tipo que você marca com os amigos as quarta-feira ou nos domingos, e que após o seu treino você não irá confraternizar com a ingestão de bebidas ou de um bom churrasco. 

No Karate em pouquíssimas vezes haverá celebração similares como a de uma conquista de um gol ou de um campeonato de futebol. O fato é que com o tempo você irá praticar por amor e especificamente como meio de vida, você acordará pensando no treino e dormirá melhor após o seu treino. 

Você envelhecerá com certeza, é a lei da vida. Um dia terá dores tão fortes, enfermidades das mais diversas vão te assolar, e mesmo assim você terá a necessidade de treinar Karate. Haverá dias em que você vai achar que perdeu tempo no Karate, ou que simplesmente não evoluiu. 

Isto é treinar Karate, você não treina pensando só em vencer, treina pensando em não ser vencido. E por mais que você pense que consegue seguir em frente, você invariavelmente precisará de motivação intrínseca. 

O verdadeiro Karateca não admite ter que parar os treinos, ele visa adaptá-los à sua condição física. O seu corpo pode até estar fragilizado por uma condição de invalidez ou pela chegada de uma fase mais madura da vida. O espírito, esse eu garanto, estará pronto para realizar o que for preciso para seguir adiante. 

Antes você conseguia dar 1000 socos e 1000 chutes, hoje você consegue apenas 10, o que você talvez não tenha notado é que os 10 socos de hoje podem valer mais que os 1000 de antes, e isso só ocorre quando você estabelece para si, que não treina Karate pensando apenas na conquista de uma faixa-preta. Você escolheu viver assim, ser mais honesto consigo mesmo, ser correto com as pessoas que te rodeiam, ter esse senso de justiça dentro de si. 

Olhando para a mágica nas árvores cerejeiras, elas estão sempre perdendo suas flores e se renovando, e você a cada nova estação será surpreendido por sua beleza e sua forma que muda de acordo com a sua necessidade de prosperar e se adaptar a sua realidade. 

Sinto-me com 10 vezes mais problemas comparados aos meus 20 anos de idade. Porém sinto-me 100 vezes mais motivado para superar e seguir em frente. E isto costumo pensar que é viver o Karate-do como modo de vida. Uma escolha para viver bem consigo mesmo. 

Treinar, desenvolver, treinar novamente, evoluir, treinar... 


 

Oss! Osu! Ossu! 

Jefferson Oliveira
Professor de Educação Física e Estudante de Karate-do

quarta-feira, 19 de junho de 2019

RAIO-X DA JKA NO BRASIL COM FATOS HISTÓRICOS NARRADOS PELO DIRETOR TÉCNICO DA ESCOLA NO BRASIL

Sensei Kazuo Nagamine Diretor Técnico e Sensei Yoshizo Machida Presidente JKA Brasil
Olá Karatecas, anteriormente eu havia apresentado neste Blog o Projeto Raio-X do Karate no Brasil, que propõe narrar para vocês fatos históricos, a principio da escola JKA BRASIL, que é a primeira escola oficialmente constituída para o ensino de Karate Shotokan no Japão. Tentarei conduzi-los desde o primeiro curso oficial no Brasil até o presente momento. 

Tenho como principio realmente apresentar a vocês um lado pouco conhecido das escolas de Karate no Brasil; que é o material humano existente na escola, que seja então em um formato mais amigável possível. 

Durante muito tempo estive recebendo perguntas vindas de vários colegas estudantes de Karate. Perguntas do tipo: Qual a melhor escola Karate? Qual a diferença para uma federação? Qual o certificado é mais importante? 

Enfim percebo que ainda existe certo receio por parte das pessoas em chegar aos mestres e professores para perguntar-lhes abertamente sobre princípios e as metodologias. 

O Brasil é um país com extensão continental e por esse motivo dificulta muito para que algumas pessoas possam ter acesso á essas escolas para realizarem os cursos de qualificação. Ainda é muito escassa a literatura relacionada a essas abordagens, logo me senti na missão de buscar apresentar um pouco mais sobre as escolas de Karate no Brasil. 

Inicio esse trabalho com a JKA BRASIL e particularmente com o estilo de Karate Shotokan, porém quero estendê-lo no futuro a outras escolas, pois precisamos entender a história e seus objetivos sejam filosoficamente e até institucionalmente. 


RAIO-X DO ENTREVISTADO: 

Sensei Kazuo Kawano Nagamine 
  • Diretor técnico da JKA Brasil e também da FPKT. 
  • Graduado em Educação Física pela Faculdade de Santo André. 
  • Doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto 
  • Docente na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto FAMERP, além de várias outras atribuições no âmbito acadêmico. 

Vamos à entrevista... 

Jefferson Oliveira: Sensei Kazuo, conte-nos um pouco sobre como o senhor conheceu o Karate? E quais atribuições você tem atualmente na JKA Brasil? 

Sensei Kazuo Nagamine: Inicialmente comecei a treinar Judô, isso entre 6 e 7 anos no interior do estado de São Paulo, para ser mais preciso na cidade de Olímpia, naquele tempo e local não haviam competições esportivas, logo praticávamos em um clube japonês o judô marcial. Passado alguns anos mudei-me para São José de Rio Preto/SP onde conheci o Sensei Matsumi que ministrava aulas de Judô e Karate no estilo Shito-Ryu, e nesse tempo eram comuns às visitas do Sensei Yasutaka Tanaka e comecei a treinar com ele, vinha também sempre o Sensei Sasaki, pouco tempo depois Yoshizo Machida Sensei, atual presidente da JKA Brasil. Tive os primeiros contatos com o Shotokan isso já no final da década de 60 e os nossos treinos de Karate e Judô ocorriam todos os dias, era pela manhã uma arte e a tarde a outra arte. 
Já com a vinda de Okuda sensei que anteriormente havia passado pelo curso de instrutores da JKA do Japão. Á essa altura veio ao Brasil, esteve em missão oficial sob a chancela da NKK (JKA) ministrando o primeiro curso de instrutores com chancela da JKA dentro do Brasil. Integrei esse curso, e logo após, eu voltei para o interior do estado para terminar o curso de Educação Física e também para desenvolver o trabalho de ensino do Karate JKA. 
Em um período mais recente com a retomada do crescimento da JKA, fui indicado para ocupar um cargo de diretor de ensino e pesquisa na JKA BRASIL, que posteriormente expandiu-se para configurar um cargo de diretoria técnica, que obviamente sempre contou com uma comissão e uma equipe de atuação na busca pela melhora do aspecto técnico sempre baseado nesse desenvolvimento marcial, e não necessariamente o lado esportivo. 


Jefferson Oliveira: Sensei é sabido que muitos mestres estudaram nas universidades japonesas e tiveram fortes influências da Nihon Karate Kyokai (JKA) e que posteriormente estabeleceram-se no Brasil ajudando a disseminação da arte. Afinal como surgiu oficialmente a JKA no Brasil? E como ela está organizada em território nacional atualmente? 

Sensei Kazuo Nagamine: O Brasil foi um país privilegiado nesse tempo, grandes mestres que fizeram parte da imigração e que assim trouxeram o Karate, pois muitos estudaram na Takudai a Universidade de Takushoku e foram alunos diretos de Nakayama Sensei, e nesse primeiro momento ensinavam muito mais por amor e pela preservação da arte. Eu posso citar o Sensei Uriu, Sagara e Tanaka e tudo começou a desenvolver-se no inicio da década de 70 com a vinda de Okuda Sensei assim deixando já de forma oficial os legados da NKK. Já com a morte de Nakayama sensei a JKA a nível mundial sofreu com as disputas pela direção, entre os anos de 1987 e meados de 2000, pois ocorreu uma disputa pelo comando da JKA no Japão. 
Já no final da década de 90 a JKA começou a organizar-se no Brasil e também no mundo. É importante ressaltar que a JKA é uma escola de ensino, e não se preocupa se o indivíduo vem da confederação A ou B, preocupamo-nos com o ensino adequando também à questões culturais no Brasil e por que não dizer até regionalmente, tendo em vista as diversas formas encontradas em cada local do país. Nos estados ocorreu a formação de praças JKA de acordo com a representatividade e até da demanda daquele lugar. Podemos dizer que estamos em todas as regiões do Brasil. 


Jefferson Oliveira: Sensei muitos Karatecas falam sobre Budô. E eu não poderia deixar de perguntar ao senhor como poderíamos de uma forma mais clara explicar como a JKA desenvolve esse aspecto no praticante? 

Sensei  Kazuo Nagamine: Essa pergunta é muito difícil de responder, vamos tentar compreender os dois Kanjis, BU – Parar a arma, evitar o conflito. DO - Caminho (mais filosófico relacionado à escolha de vida) podemos dizer que é ter princípios e atitudes nobres muito mais relacionados à elevação humana. 
Devemos ter cuidado com a banalização das palavras, com exemplo a expressão: Ele é um samurai. O samurai tem um conceito muito mais técnico do que se imagina, ele esta para servir e nesse sentido ninguém consegue viver assim na prática. Outro exemplo de atitude, é não furar uma fila, indo mais fundo quando se entra em uma disputa (Luta) se você esta machucado não lute, pois é errado fazer e depois dizer que perdeu por não estar em condições, você despertará o pior sentimento em seu oponente. Se optar por lutar machucado lute e não mostre sua dificuldade. A simplicidade e humildade devem ser buscadas, porém existem muitos elementos que promovem a confusão mental. 


Jefferson Oliveira: Quando pensamos sobre a JKA somos conduzidos a imaginar a tradição do Karate Shotokan. Como desenvolver modelos de ensino tendo em vista que as novas tecnologias como vídeos, redes sociais e estão presentes e influenciam a pratica da arte? 

Sensei Kazuo Nagamine: Existem dois modelos de Karate, o Shotokan aquele que arrisco a dizer ser o modelo japonês e o Karate de Okinawa que deu origem ao Shotokan. O shotokan tem características diferentes, o Japão é um país altamente tecnológico e a JKA esteve no centro de Tókio, e durante muito tempo a JKA pagava aluguel, e perante o governo japonês parece-me que a JKA hoje tem um status até parecido com o de uma religião japonesa, era muito comum às pessoas lavarem o Karate Gi e deixavam secar ali mesmo, esse paradoxo sempre foi constante e a difusão tecnológica não existia nesse tempo, obviamente sempre existiu um filme ou outro falando sobre o Karate. Hoje existem mecanismos tecnológicos que proliferam as informações, e digo que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. É bom quando a gente tem uma formação para fazer essa leitura da informação e traduzir de outra forma. A informação é rápida, superficial e volátil, e não tem profundidade, e ter essa formação te essa condição de análise. Hoje costumo brincar que existem muitos Senseis Youtube e consequentemente alunos Youtube. Nós que trabalhamos com o Karate precisamos aprender a conviver com isso porque se disseminam muitas coisas, e trabalhar com as inovações tecnológicas tirando o melhor proveito possível sem deixar perder a profundidade que o Karate exige. É muito interessante que esses dias eu mesmo realizei a tradução de um poema de Sensei Funakoshi que falava exatamente sobre isso, a importância de saber conviver com o velho e o novo. 


Jefferson Oliveira:  Algumas organizações incluem as disputas de Kumite para crianças com menos de 10 anos. Como a JKA enxerga o processo competitivo? 

À esquerda:Sensei Ruy Koike e a direita: Sensei Roberto Alves 
Batista, membros comissão de arbitragem da JKA Brasil
Sensei Kazuo Nagamine: Nos últimos anos já no conjunto de regramento, estamos aproximando cada vez mais o modelo de competição dos adultos com o das crianças. E isso já foi tema de dissertação de mestrado defendido no Brasil por uma atleta da JKA do Rio Grande do Sul. Existe muita controvérsia, a competição esportiva é uma situação que é um processo de comparação social, não é comparar quem é rico ou pobre. Verificar quem ganha e quem perde, é entender que se você perder não quer dizer muito, mais também devo dizer que ninguém entra em uma competição para perder e no fim todos querem vencer, a questão é verificar como se aceita o não ter vencido uma competição, por isso é muito difícil estabelecer faixas etárias. Eu conheço pessoas com 40 anos que são campeões internacionais e não tem maturidade nenhuma, ao contrário vejo crianças e adolecentes com a cabeça muito boa. Por isso as regras na JKA em âmbito internacional existe cada vez mais a proximidade no conjunto de regras. As crianças podem e devem participar da competição, a questão é saber como essas crianças veem sendo educadas para participação dessas competições. Eu tenho uma grande preocupação para que haja uma observação e para que essas crianças estejam recebendo esse treinamento e orientação nesse sentido. 


Jefferson Oliveira: Sensei qual a idade o senhor considera ideal para se atingir a maturidade e consequentemente testar-se em um exame de graduação faixa-preta? E quais os requisitos necessários você considera fundamental para que o indivíduo consiga atingir esta graduação? 

Sensei Kazuo Nagamine: A maneira como esta configurando mundialmente, os exames em geral medem muito pouco esse aspecto; o grau de maturidade. O importante é saber que quando se pede um exame, se pede a formalização de determinado conhecimento técnico. Isso é definido melhor pelo professor desse aluno, pois ele tem melhores condições de fazer essa aferição e permitir a inscrição dele ou não. Obviamente esse também precisa ter a maturidade para fazer essa seleção, e por vezes o aluno não faz o exame por outros motivos. O faixa preta precisa demonstrar algo interno, não pode demonstrar um desejo que move ao consumo, ou seja buscando os graus por ostentação ou status. 


Jefferson Oliveira: O Sensei Funakoshi é considerado por muitos o pai do Karate Shotokan, faleceu com uma graduação de 5º Dan, enquanto o Sensei Nakayama foi considerado 10º Dan. Como o senhor enxerga a progressão de Dans e principalmente a auto intitulação de muitos karatecas de Shihan no Brasil? 

Sensei Kazuo Nagamine: Essa é uma pergunta que vai na veia. Posso falar pela JKA ou pelo Karate tradicional que é o meio onde convivo durante a minha vida. A questão das graduações é que os critérios eram de 3 estágios determinados pela Dai Nippon Botoku kai, e já no final da 2º guerra a mesma foi extinta. Na graduação de Funakoshi Sensei existe uma situação bastante peculiar que o Shotokai que foi ensinado pelo Sensei e até hoje segue essa tradição com a graduação de até 5º Dan, pois aquele grupo de alunos parece ter tido essa relação de reciprocidade para com o mestre isso em vários países. E devo deixar claro que era praticado na época, e eu tenho a impressão, e isso é opinião pessoal, que muito se incorporou em relação a outras escolas e estilos que tinham graduações maiores, e nesse encontro no momento da configuração da JKF (Japan Karate Federation) era um problema essa questão de Dans. Um fato interessante, por exemplo, no livro Karate Dinâmico de Sensei Nakayama por exemplo todos ali hoje reconhecidos mestres eram 2º ou 3º Dan. Ali houve essa mudança e o critério de estabelecimento de méritos foi definido inicialmente por Nishiyama Sensei antes de ele ir para os EUA. 
Quando Nakayama faleceu ele era o 9º Dan e tradicionalmente a concessão do 10º Dan na JKA ocorreu em memória. Hoje vemos por exemplo uma discussão sobre a concessão recente do 10º Dan ainda em vida a Sensei Massaki Ueki atual líder mundial da JKA, eu não sei exatamente os motivos,  foi definido pelo Shihan Kai, mais posso dizer que normalmente a partir do 7º Dan ocorrem essas concessões pela próprio Shihan Kai essas mudanças. Esse 10º Dan em vida gerou muitas controvérsias, porém é algo que foi resolvido internamente. 
No Brasil por exemplo tivemos a concessão do 8º Dan a Sensei Sasaki e recentemente a nosso presidente Yoshizo Machida. Falando mais sobre a questão das graduações já nessa fase mais moderna, o que não pode acontecer é de o individuo "se sentir" dentro do Karate. E digo, quanto mais elevada a graduação mais simples e mais humilde, e precisa haver a certeza de que nada sabemos e que estamos em constante aprendizado. O termo Shihan em determinado sentido pode parecer depreciativo, é como trazer para si um status demasiadamente elevado. Shihan é um termo extremamente honorífico para a pessoa trazer para si próprio. Cito o |Sensei Nakayama o mesmo abominava esse termo Shihan. Para mim, "Sensei" já esta de bom tamanho em minha opinião, sensei não é professor, é aquela pessoa que pela historia e a prática configura alguém digno de ser seguido, e existe um abismo entre um sensei e o uso do termo Shihan. 


Jefferson Oliveira: Quais as metas traçadas nos próximos anos para a evolução do Karate JKA no Brasil? Para os Karatecas que desejarem estudar ou filiar-se á JKA Brasil quais os requisitos? De uma forma mais resumida como proceder para obter informações? 

Sensei Kazuo Nagamine: A história da JKA esta associado ao processo de imigração. Em um determinado
A esquerda Sensei Carlos Rocha recentemente
promovido a 6º Dan pela JKA
momento pessoas deram sua vida para isso, não romanticamente falando, mais dedicaram a energia de sua vida para edificação do Karate dentro do Brasil, e cito grandes mestres: Inoki, Tanaka, Watanabe, em São Paulo temos: Sasaki, Sagara e muitos outros. Eles deram uma direção técnica e até ideológica e cada um desses mestres deu a sua contribuição comparado a constituição de um corpo, como partes desse corpo. 
Atualmente temos no Sensei Yoshizo Machida a figura do presidente o instrutor chefe aqui dentro do pais, eu convivi muito com ele desde adolescência isso me da uma condição de ter uma boa relação. Temos uma estrutura administrativa, e já para pessoa fazer parte não é só treinar, ou um local para fazer inscrição ou ter uma carteirinha isso é que menos importa, é preciso que as pessoas estejam junto conosco treinando e participando de cursos, mais principalmente que queira treinar o Karate com sinceridade, esse é o Karate da JKA. Poderão procurar pessoas que já fazem parte da JKA nos estados e de certo modo poderá receber mais informações ou até mesmo entrar em contato diretamente com a JKA Brasil. Não existe uma cartilha a se seguir, as pessoas vão compreendendo esse conceito todo e adquirindo em si próprio uma concordância com aquilo e assim descobrindo os valores da JKA por si próprio. 


Jefferson Oliveira: O senhor juntamente com outros professores elaborou um livro intitulado: Jogos de Luta Perspectiva da Motricidade Humana, qual seria aplicabilidade dos conceitos do livro na prática? Conte-nos um pouco sobre essa Obra: 

Sensei Kazuo Nagamine: Temos um aluno chamado Victor Lage que esta desde os 10 anos de idade conosco e ele fez Educação Física, e a iniciação científica dele foi sobre Karate, o TCC foi sobre Karate onde ele buscou entender o Karate-do como meio de vida, ou seja caminho. Depois ele fez o mestrado fazendo um estudo sobre lutas, e já no Doutorado ele trabalhou com a questão dos projetos sociais como uma ferramenta de trabalho e de ensino. Ainda no mestrado surgiu essa ideia de fazer então essa literatura relacionado aos Jogos de Luta. 
Percebe-se que a maioria dos professores não necessariamente precisa ser faixa preta para dar aulas de Karate, no caso esse é o Licenciado em Educação Física, e percebeu-se que sempre existiu uma carência nesse sentido de propor jogos de luta. O livro busca mostrar como a luta pode ser trabalhada na Educação física e existem estudos que comprovam que as lutas podem ser muito úteis para crianças de 2 a 4 anos de idade, que é um momento que agressividade esta mais latente nas crianças. O livro foi editado pela Editora da Universidade Federal de São Carlos e seu nome é Jogos de Luta. Perspectiva da Motricidade Humana. 
A proposta do livro é produzir condições mínimas para trabalhar jogos e brincadeiras, e seria para alavancar a prática das lutas, particularmente a do Karate. É direcionado a quem esta estudando e quem se formou em Educação Física. Eu estudei muito no Japão, digo é importante entender a diferença entre as configurações iniciais desde o Karate-Jitsu até o Karate-do. O Karate não foi idealizado para competição. Sobre o processo competitivo eu costumo comparar, por exemplo dizendo o corpo todo é o Karate é o Budo, a competição é uma unha. Se eu tirar a unha dói vou sentir que ela existe ali, ela por si só não representa o corpo todo. A competição é uma forma de testar. O Karate tem por primícias e conceitos filosóficos trabalhar a saúde e a educação. 


O RECADO DO SENSEI 

O principio quase que constitucional da prática do Karate da JKA e que todos nos praticantes de Karate precisamos entender, é que todos somos iguais. E que nós possamos entender, que á prática, deve forjar seres humanos melhores para a sociedade. 

Nós não temos que treinar mais só para nós, ou para o nosso Dojo, e isso efetivamente acorre. Precisamos nos tornar melhor para servir a sociedade. 


AGRADECIMENTOS 

Primeiro gostaria de lhes dizer sobre as primeiras conversas com o Sensei Kazuo Nagamine que é o diretor técnico da instituição. Trata-se de uma pessoa excepcional, seja pela sua gentileza e simplicidade, trata-se de um verdadeiro cavalheiro, desde o momento que lhe apresentei o projeto o mesmo mostrou-se solícito e com afinco me ajudou nessa tarefa. 

Conversamos bastante antes, durante a até o fechamento desta matéria sobre a importância deste tipo de material que vos trago. 

O Sensei Kazuo é um grande líder de fato. Já nos primeiros minutos da conversa o que observei foi uma pessoa muito centrada, e que verdadeiramente dedica parte de sua vida ao ensino e pesquisa relacionados ao Karate-Do. 

Conversamos bastante passando pelas questões históricas, comportamentais, filosóficas, estruturais e técnicas, buscando sempre uma forma fluída, pautada pela simplicidade das perguntas e naturalidade das respostas. 

Por esse motivo venho manifestar minha gratidão pela grande aula de Karate-do que tive durante esse trabalho. 

Sucesso Sensei! Que você tenha uma jornada cheia de realizações pessoais e profissionais. 

OSS! OSU! OSSU! 
Jefferson Oliveira Professor de Educação Física e estudante de Karate-do


1º PARTE ENTREVISTA - RAIO-X DA JKA NO BRASIL


2º PARTE ENTREVISTA - RAIO-X DA JKA NO BRASIL


quarta-feira, 22 de maio de 2019

SERÁ QUE O TREINO DE KARATE SE ENCERRA SOMENTE AO FINAL DA AULA ?


Olá Karatecas, nesta matéria fui em busca de conhecimentos na área esportiva que também faz parte da arte marcial Karate-do. E o meio que encontrei foi na escola onde eu treino Karate, no caso o projeto Barueri Esporte Forte, e foi mais especificamente no 7º Torneio integração de Artes Marciais de Barueri, realizado no dia 18.05.2019 no Ginásio José Corrêa na cidade de Barueri/SP. 

Embora existam muitas organizações e principalmente diversos formatos de competição, o meu intuito não apontar o melhor formato competitivo, embora eu particularmente prefira o SHOBU IPPON. 

Atualmente o karate tem se tornado um grande negócio para muitas pessoas e esse crescimento por vezes alimenta um sistema no qual o Sensei é um fornecedor e o aluno o seu cliente. Não que isso seja errado, ao contrario o Sensei deve receber muito bem pelo serviço prestado não só a seu aluno, mais também a sociedade. 

Quis realçar esse modelo de relação Fornecedor x Cliente para mostrar talvez uma deficiência em alguns modelos pedagógicos, como disse, embora o professor deva se preocupar com o desenvolvimento integral de seu aluno, digo crescer em todas as áreas dentro do Karate, essa relação às vezes inviabiliza a questão do comprometimento dos alunos para com o Karate no geral. 

Alguns alunos acham que pelo simples fato de pagar uma mensalidade pelas aulas deve ser tratado tão somente como clientes, por vezes até faltando com o devido respeito a seu professor “Sensei”.

Por esse motivo resolvi escrever mais sobre os “DEVERES”. Escrevo particularmente para você que treina e que deseja ser um Sensei um dia.  


Trabalhando no evento de Barueri
Não me entendam mal afinal ninguém deve se obrigar a nada, logo isso deve ser feito de forma espontânea ao compreender que o treino não acaba apenas no final da aula. Existem inúmeras atividades que eu particularmente chamo de atividades complementares nesse processo de desenvolvimento pessoal na arte. 

Uma delas é a que vos apresento agora sob a perspectiva de atuar de forma voluntária em competições, e dessa forma também entender os processos de avaliação dos atletas além da própria organização do evento. Busca-se a todo o momento a perfeição na elaboração da competição e no desenvolvimento das atividades. 

A EXPERIÊNCIA NA PRÁTICA

Acordei no dia bem cedo já decidido a ajudar nesse evento, e dali extrair o máximo de informações possíveis. 

Digo a vocês essa matéria surgiu como lampejo e pela manha minutos antes do evento. Logo pensei porque não mostrar aos estudantes minha experiência nesse evento como um ambiente de aprendizagem e de estudo, e foi questão de 10 minutos eu já tinha tudo em mente, a questão foi pedir a autorização ao Sensei Rodrigo Arita um dos organizadores do evento e logo buscar as melhores imagens no intuito de ilustrar essa matéria. 

Equipe de apoio Barueri
O Sensei prontamente entendeu os objetivos do estudo e eu fui construindo aos poucos o roteiro. Cheguei lá por volta das 08h00min da manhã , e logo fui procurar a minha tarefa junto à equipe de apoio. Ocorreram apresentações iniciais das artes, marciais: Judô, Karate-do, Jiu-Jítsu, Taekwondo, Kung Fu e também de Capoeira, em torno de 800 alunos participaram. 

Com um show de inclusão pudermos ver atletas PCD se apresentando e mostrando a superação, sob as palmas de uma arquibancada fervorosa que parecia estar contagiada com tamanha a força de vontade demonstrada pelos atletas de Barueri.     

Após deu inicio as competições, tratei de ficar na área do Karate, por vezes como apoio na preparação das crianças em outro momento até mesmo atuando como arbitro lateral, e ao mesmo tempo buscando captar os detalhes para composição dessa matéria. 

Em poucos minutos eu já estava envolvido com as atribuições e posso dizer foi muito bom essa experiência, meus colegas já mais experientes me ensinando sobre como agir em situações corriqueiras e até ocasionais. 

No decorrer do evento consegui colher depoimentos que reforçassem a ideia que o Karate-do é um processo de construção de conhecimento, e sem a pratica nada realmente se materializa. 

Consegui informações sobre o evento e também sobre a participação dos jovens no ultimo campeonato Brasileiro JKA 2019, realizado no Rio Grande do Sul, e cito a participação muito expressiva de toda equipe de Barueri que subiram constantemente nos pódios deste evento. 

Conversei com alguns jovens que já treinam há quase 10 anos no Barueri e pude perceber o quanto evoluíram em sua prática do Karate e também como pessoas do bem. 

Luiz Castro (Pai de aluno)

Ao final do evento o que se viu, foram todos já com um imenso sorriso no rosto e um sentimento dever cumprido. 

Um frase que não saiu da minha cabeça foi: 

“O que me chama mais atenção é ver que meu filho começou a deixar de lado o celular para praticar Karate”                                                                                      
Luiz Castro  




CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Os Kohais e Senpais devem dedicar-se também como voluntários sempre que possível a esse tipo de evento, logo sentiram o Karate-do correndo nas veias, constantemente se testaram na resolução de problemas e conflitos treinando suas mentes para agir de forma correta. 

Se você tem longos anos de prática porém desconhece esse ambiente colaborativo , deve correr para recuperar o tempo perdido. Nas competições você vai conhecer pessoas, vai fazer muitas amizades e isso fará a sua forma de olhar para arte marcial mudar. 

Embora o Karate seja composto de socos , chutes, cotoveladas e etc. O Karate é composto de pessoas organizadas buscando incessantemente a perfeição, sem ter alcançado permanecem com o desejo incessante melhorar não só fisicamente, mais principalmente mentalmente. 

Em relação ao evento: Torneio integração de Artes Marciais de Barueri, não poderia ter ocorrido melhor, muito bem organizado e sua proposição efetivamente se faz necessário levando as crianças jovens e adultos ao um ambiente familiar e propicio ao pleno desenvolvimento dessas pessoas. 


AGRADECIMENTOS 

Parabéns ao Barueri Esporte Forte, a Secretária de Esportes e Prefeitura Municipal da cidade de Barueri, por promoverem essa grande festa e principalmente por ajudar a formar essas grandes pessoas. 

Um parabéns especial ao Sensei Rui Koike pela excelência em material humano tudo construindo com a brilhante equipe de professores. 

Obrigado ao Sensei Rodrigo Arita por acreditar nos objetivos desse estudo e também por me ajudar no dia-a-dia de treinos. 


OSS! OSU! OSSU                                                                                                                        Jefferson Oliveira Professor de Educação Física e estudante de Karate-do estilo Shotokan

quinta-feira, 25 de abril de 2019

COBRA KAI FINALMENTE A 2° TEMPORADA


Olá amigos Karatecas no dia 24 de Abril 2019 ocorreu a estréia da 2º temporada da série derivada da franquia de Karate Kid, intitulada como: COBRA KAI. Eu não resisti e já assisti todos os episódios.

Considerando que vocês já tenham assistido a primeira temporada e que culminou no ultimo episódio com a derrota de Robby Lawrence pupilo do agora Sensei: Daniel Larusso Miagi-Do, e que ocorreu no famoso torneio de All-Valley, onde sagrou-se o campeão o jovem Miguel Diaz pupilo de Sensei Johnny Lawrence Cobra Kai.


JOHN KRESSE- De cara recebemos a aparição inesperada de ninguém menos do que John Kresse antigo sensei Cobra Kai, novamente interpretado por Martin Kove trás novamente aquele olhar bem expressivo de uma pessoa totalmente desequilibrada mesmo já nessa fase mais avançada de sua vida. O papel dele nessa temporada é de usurpador e corruptor da nova filosofia do Sensei Johnny. 

Toda temporada remonta a velha rivalidade de Daniel Larusso e Johnny Lawrence, mais um elemento novo aparece de forma mais latente, o velho Johnny parece estar diferente de verdade já no inicio das aulas faz com que seus alunos vistam novamente a faixa branca, e reforça que ser durão como ele mesmo diz nunca significou ser um trapaceiro, ao contrário disso exige que seus pupilos tenham honra sobretudo, como ele diz: " É melhor vencer um leão do que um macaco aleijado".

Ambos os dojos estão focados em captar novos alunos promovendo uma disputa de marketing que mais parece piada, cada qual usa as armas que tem.

Não quero spoileres por esse motivo falarei apenas dos pontos mais marcantes que fazem jus a você assistir está série:

1º Johnny durão mais não desleal.

2º Daniel esquece até mesmo da família por conta de sua rivalidade com Cobra Kai.  
    
3º Kresse é uma pessoa muito desequilibrada e fará tudo para retomar a velha metodologia Cobra Kai.

4º Samanta Larusso começa a treinar com seu Pai. 

5º Miguel Diaz esse é um rapaz diferenciado parece ter compreendido a bronca do Sensei Lawrence no começo da temporada sobre ser honrado.

6º Robby finalmente começa a se aproximar de seu Pai Johnny.

7º A velha guarda Cobra Kai promete um encontro cheio de nostalgia.

8º Os jovens nerds parecem ter aprendido a se defender.

9º O retrato do verdadeiro mestre Chojun Miyagi Goju Ryu aparece na parede do Dojo Miyagi-Do.

A serie está disponível em  10 episódios pelo YouTube Premium que é uma versão paga, porém o valor é bastante acessível considerando o entretenimento, os episódios tem durações média de 30 minutos. 

Segue o Link para assistir o 1º episódio




Jefferson Oliveira
Professor de Educação Fisica e estudante Karate-do estilo Shotokan

Oss! Osu! Ossu!



   

terça-feira, 26 de março de 2019

AFINAL O QUE É O PROJETO RAIO-X DO KARATE NO BRASIL?

Olá Karatecas! 

Hoje venho por meio desta nota aqui no Blog tentar demonstrar a vocês a essência do Projeto Raio-X do Karate no Brasil que sobretudo tem por objetivo falar sobre algumas escolas de Karate-do em nosso país. 

Busco mostrar um pouco do material humano de cada organização, as suas principais metas e objetivos no que tange ao ensino do Karate-do em nosso país, algumas particularidades e conceitos peculiares de cada escola, e nessa caminhada busco ainda resgatar alguns fatos históricos desde sua fundação até o presente momento.


COMO SURGIU A IDEIA?

Nessa caminhada de auto aprendizagem teórica, comecei a receber muitas perguntas as quais eu não sabia a resposta, e como sempre digo se você não sabe, diga a verdade e as pessoas entenderam. Logo a tarefa é ir em busca de conhecimento. 

Recebi perguntas do tipo: Como se filiar em tal escola? Como é o Karate na escola X? O que é preciso para me formar faixa preta? Devo me filiar a uma escola ou federação? 

Foram as mais variadas perguntas, e resolvi tentar fazer um trabalho com as principais linhagens e escola de Karate Shotokan no Brasil, já nessa primeira fase do projeto, e se tudo correr bem, porque não estender a outros estilos, tudo sempre em busca do que chamo de atividade complementar no Karate-do.


OBJETIVOS DOS ESTUDOS: 

  • Entender como surgiu a escola e suas origens no Brasil.
  • Como funciona o processo de filiação.
  • Como funciona o processo de ensino aprendizagem.
  • Quais as estratégias são usadas para formação do material humano da organização.
  • Área de atuação em território nacional.
  • Quais as metas traçadas a curto, médio e longo prazo em termos de exposição.
  • Entender os requisitos necessários para formação de um faixa-preta.
  • Falar sobre a visão da organização dos chamados Títulos: Sensei, Shiran, etc

QUEM SERÃO OS CONVIDADOS PARA AS ENTREVISTAS?

Sempre queremos ter alguém da parte técnica das escolas, será alguém que compreenda a essência daquele processo de ensino aprendizagem da escola, normalmente será o líder ou representante legal, embora possa envolver mais de um convidado em uma mesma pauta.

Gostaria muito de ouvir sugestões e indicações, e quem puder entrar em contato com nosso Blog através do e-mail: contato@shodo.com.br, aos cuidados deste que vos escreve, seria extremamente útil e estarei analisando as possibilidades.


Depoimento e convite do Sensei Kazuo Nagamine um dos líderes da JKA-SP e Brasil.   


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o Karate-do no Brasil tenha muitas linhagens e escolas de ensino e pesquisa atualmente, se por um lado pode parecer muita divisão da arte em si através dessas muitas escolas, certamente isso também sempre teve por traz além dos fatos históricos as necessidades individuais dos grupos de Karatecas para formação das varias escolas de Karate-do.

E com certeza todas são muito importantes pois trazem um DNA de um Karate-do que precisou evoluir tento em vista as varias pesquisas e a ciência aplicada a eficiência e melhora da técnica.

Precisamos sobre tudo saber onde treinar? Com quem treinar? E porque treinar Karate-do?

Espero que seja uma grande oportunidade de aprendizagem para todos nós.


Jefferson Oliveira
Professor de Educação Física e estudante de Karate-do estilo Shotokan

OSS! OSU! OSSU! 

quinta-feira, 14 de março de 2019

E NA HORA DO KUMITE QUAL A SUA ATITUDE ?


Olá Karatecas, convido vocês a participarem dessa enquete. 

Desejo tentar traçar o perfil do Karateca na hora do Kumite, antes de mais nada é um estudo e as imagens retratam a ficção, embora possam demonstrar exemplos de atitudes. 

Gostaria de ressaltar que não estou falando de ética ou moral, estou fazendo uma analogia com algumas estratégias de combate.

Qual o estilo de luta você mais se identifica? 

Agressivo x Suave? 

Sem no Sen ou Go no Sen? 

Envolva os seus amigos Karatecas. Ajude-me! Compartilhe! 

Oss! Osu! Ossu!

Jefferson Oliveira 
Professor de Educação Física e estudante de Karate-Do Shotokan 
#APRENDEMOSJUNTOS 

APÓS 28 ANOS, RESOLVI COMPETIR NOVAMENTE EM UMA COMPETIÇÃO OFICIAL DE KARATE

Olá! Karatecas Após um bom tempo sem escrever por aqui, cá estou novamente para lhes contar a experiência que tive no último sábado. Ocorreu...

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